quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

NUDEZ NA WICCA

 

Por que, afinal, bruxos e bruxas sempre trabalharam "vestidos de céu" (despidos)? Gerald Gardner, o responsável pelo renascimento da Bruxaria na atualidade, nos disse em seu livro, Witchcraft Today, que os bruxos atuam nus porque o ritual deles manda que assim seja feito, e porque suas práticas são remanescentes de uma religião da Idade da Pedra e eles conservam seus antigos caminhos. Mas a explicação dos bruxos é a melhor: "Porque só desta maneira podemos alcançar o poder".

Bruxos aprendem e acreditam que o poder reside dentro de seus corpos, o qual eles podem  liberar de vários modos, o mais fácil sendo dançando num círculo, cantando e gritando, para induzir uma exaltação; eles acreditam que o poder transpira de seus corpos, as roupas impedindo sua liberação.

Num ritual, no qual o círculo é devidamente lançado e projetado, usando as técnicas de geração de poder, o coven se encontra no que chamamos de "floresta entre os mundos", um estado dimensional intermediário entre o mundo material e o plano astral, no qual se perde totalmente a noção de tempo, por exemplo. É uma "brecha" aberta, um canal de comunicação com o mundo dos elementais e o Reino dos Poderosos e dos Deuses. O poder sai dos nossos corpos diretamente para o plano acima; todos os participantes do círculo não estão mais no plano físico, mas num "limbo", uma dimensão intermediária.

Se você possui clarividência, pode ver o poder ser levantado. Pode constatar por si mesmo a diferença entre usar uma túnica folgada e não usar nada. O campo eletromagnético que circunda nosso corpo é o responsável pela condução da energia levantada no círculo. Estar nu é renunciar e afastar-se do mundo, é igualar-se a todos os demais membros do grupo, a nudez representa nosso despojamento dos condicionamentos e dos valores sociais. As roupas, mesmo as confeccionadas com fibras naturais, têm sua vibração e energia próprias, que terminam interferindo com a energia gerada pelos participantes do círculo. Quando aprendemos a lidar com energias, passamos a saber que determinadas vibrações inibem o poder levantado. As vibrações dos tecidos são uma delas.

Nudez e sexo sempre foram elementos estritamente ligados à Arte. Os dois são poderosos, produzem enorme quantidade de energia. Nos antigos Ritos Misteriosos da Wicca, o sexo sempre foi visto como um enorme reservatório de poder a ser explorado e utilizado. Sexo é o caminho da criação, o portal de entrada para este mundo e para a vida. Sua sacralidade reside no princípio transformador, que a partir das polaridades produz a vida. Todos os processos de transformação estão relacionados aos Mistérios sexuais e sua magia. Sua culminância é a realização do Grande Rito, durante a iniciação ao Terceiro Grau, mas se observarmos atentamente, todos os Mistérios iniciáticos da Wicca estão de certa forma ligados à sexualidade.

Os óleos do Sabá, antigamente, eram misturados com fuligem ou carvão moído, o que produzia uma pasta escura e escorregadia. Os bruxos untavam todo o corpo com ela e partiam nus para o ritual, o que de certa forma os mantinha aquecidos até o momento das danças começar. A fuligem ou o carvão moído os tornavam invisíveis à noite. Eles iam nus para os encontros porque, se fossem atacados pela polícia, não teriam tempo para se vestirem e então deixariam para trás roupas incriminadoras. Outra coisa era que eles perceberam que os policiais normalmente não conseguiam agarrar uma garota nua, mas pegavam uma vestida. Os corpos oleosos e escorregadios tornavam-se difíceis de ser apanhados.

domingo, 15 de dezembro de 2024

A MAGIA DAS ÁRVORES

 

As árvores podem nos ajudar a restabelecer energias perdidas, quando estamos fracos ou doentes. Também, quando sentimos que estamos com o organismo debilitado devido a alguma negatividade, que pode causar mal-estar, angústia e tristeza, podemos apelar para a ajuda de nossas amigas árvores.

Todas as árvores são diferentes em termos energéticos, mas a maioria delas serve para nos ajudar a reequilibrar nossas forças e energias perdidas, afastando nosso sofrimento e a negatividade que tenhamos recebido de alguém ou de algum local.

Tudo que é vivo possui um campo eletromagnético, inclusive as árvore, que também possuem Centros de Poder (chacras) que sustentam seu campo vital. As plantas e as árvores são seres conscientes, que possuem um sistema nervoso tremendamente desenvolvido, demonstram sentimentos e preocupações e estão ativamente integradas no sistema vital da nossa Grande Mãe Terra.

Você pode experimentar com cada tipo de árvore, mas o mais importante é desenvolvermos uma sensibilidade tal, que possamos saber qual o tipo de energia mais apropriado ou que melhor é assimilado por nosso corpo.

O ideal é você ter sua própria árvore em seu jardim, mas se isso não for possível, encontre uma num bosque ou parque, longe dos caminhos ou ruas por onde passam muitas pessoas e com a qual você poderá estabelecer um elo mágico e pessoal.

Antes de escolher a árvore, verifique se ela está sadia, se não está perdendo as folhas. Essa primeira avaliação visual é importante, mas também existe a possibilidade de a própria árvore rejeitar compartilhar sua energia conosco por algum motivo. Por isso é importante percebermos que sensações as árvores nos passam, antes de trocarmos energias com elas.

Em primeiro lugar, abrace o tronco da árvore e converse com ela, explique o que você está pretendendo fazer e por quê. Toda árvore é uma antena viva, que recebe energias do cosmos e da Terra. Assim, ao abraçarmos uma árvore, estamos nos conectando com o poder que ela absorve da Terra e nos transmite. Do mesmo modo, ela absorve as energias negativas que assimilamos no dia-a-dia e as devolve para a terra, fazendo um aterramento de tais energias, que são transformadas e purificadas. 

Abrace o tronco da árvore e sinta a sua energia. Que sensação ela lhe passa? De receptividade ou de rejeição? Isso é importante, porque nos diz se ela está pronta para trocar energias conosco ou não.

Caso o sinal seja positivo, sente-se junto à árvore, de preferência sem camisa e encostando a coluna em seu tronco. Imagine que as energias vindas do centro da Terra sobem pelas raízes da árvore e pelo seu caule e passam agora para você, através da base da sua coluna. Sinta o poder subindo pelo seu corpo.

Essa sensação pode ser um leve formigamento ou uma sensação de calor. 

Você pode unir suas raízes às da árvore, unindo-se com ela à Terra e aos elementos, içando o poder.

Fique assim por uns três minutos e então se separe do tronco da árvore. Abrace-a novamente, agradecendo-lhe pela ajuda recebida, pelas energias benéficas e curativas que ela lhe proporcionou.

A interação entre os bruxos do passado e as árvores é muito antiga, uma cooperação na qual os benefícios sempre foram mútuos. Nossas árvores estão sempre doando sua energia excedente. Esse conhecimento foi, durante muito tempo, mantido em segredo. Era um legado do paganismo, que a Igreja procurou destruir, implacável, durante mais de mil anos. Quando passamos a estabelecer uma relação efetiva com nossas árvores e com o ambiente natural que nos rodeia, percebemos mudanças enormes no nível de vitalidade e em todo o nosso potencial energético.


Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.

O DEUS DA WICCA

 

O Deus de Chifres é a personificação do Senhor das Florestas, da própria fertilidade, o agente que torna possível a fecundação e a renovação da vida. Sua mais antiga representação é a do Deus com chifres de alce, que encarnava o próprio espírito da floresta, o Senhor dos Animais, poderoso e indomável.

Nos primórdios da vida humana, quando as tribos ainda eram nômades, a busca por alimentos durante os meses de inverno era tremendamente difícil. Surge, então, a figura do caçador, que no inverno partia em grupos para assegurar a sobrevivência dos demais. É interessante notar que da prática da caça, exercida pelos homens mais valentes da tribo que, arriscando a própria vida, passavam muitas vezes semanas longe de casa, surgiu uma espécie de culto à divindade encarnada no próprio animal caçado. Esses caçadores primitivos acreditavam que o alce, o grande e temido animal selvagem, era a encarnação do Senhor da Floresta, e que vinha oferecer-se em sacrifício, doa a própria vida para o benefício da humanidade.

Dessa antiga crença, surgiu toda uma prática ritualística em torno do animal caçado. Ao ser abatido, ele era desossado. Seus ossos eram enterrados na floresta, devolvido ao seio da Mãe para que ele pudesse renascer no ano seguinte, assegurando a renovação da caça e a abundância de carne para a tribo.

É interessante como o culto ao Deus de Chifres está intimamente relacionado com o culto da Deusa, e não pode existir separado dele. Também bastante interessante aqui é que encontramos nesses ritos tão antigos os primórdios do conhecido mito do sacrifício divino, que se tornará o tema central de quase todas as religiões.

Com o passar do tempo, e o surgimento dos primeiros rudimentos da agricultura, introduzidos pelas mulheres através dos ritos centrados na Deusa, as tribos começaram a se tornar sedentárias. Nessa transição, da fase coletora para a da agricultura, surgiram as primeiras tentativas de domesticação de animais. Talvez um dos primeiros animais domesticados tenha sido o touro, que, além de ser excelente para arar a Terra, proporcionava ótima carne. Aqui, observamos uma significativa transformação da representação do Deus de Chifres, que passou a ser cultuado com chifres de touro. Isso ocorreu paralelamente ao início da Era de Touro, que assinalou o surgimento das primeiras religiões patriarcais.

Com o progressivo aumento da importância atribuída ao Deus, o prestígio dos caçadores também aumentou. Paralelamente, dois cultos coexistiram, aquele do Deus de Chifres dos caçadores e o da Deusa. Não se sabe em que época ocorreu a fusão dos dois cultos em um só, mas o certo é que isso pode ter acontecido mediante a união ou casamento entre o líder caçador, sacerdote do Deus de Chifres, e a sacerdotisa da Deusa. Da união desses dois cultos, surgiu uma mitologia e uma simbologia centrada nas polaridades sagradas, representadas pelo casal divino. A celebração do casamento entre os sacerdotes desses cultos espelhava a união mística e sagrada dos deuses, e os próprios sacerdotes eram tidos como portadores da energia divina na terra. Essa tradição se preservou durante milhares de anos, tornando-se um dos maiores festivais do paganismo, o Beltane, a época de vitalidade e da fertilidade, quando o Deus engravida a Deusa. 

Mais tarde, quando as tribos e clãs se tornaram realmente sedentárias e a criação de animais domésticos torna-se um fator decisivo na economia e no fornecimento de alimentos, uma nova metamorfose teve lugar, quando o Deus passou a ser representado com chifres de bode. Tanto o touro quanto o bode encarnavam muito bem a essência viril e fértil do Deus, e séculos depois, divindades como Dionísio ainda possuíam tais atributos sexuais, que simbolizavam a renovação e a virilidade.

O Deus passa a ser o consorte da Deusa, porque, mesmo com o avanço do patriarcado, o simbolismo do Deus só pode ser compreendido através dela. Entretanto, além de seu consorte, ele é também seu filho, porque é por ela gerado. A Deusa é a terra fértil que tudo sustenta, e o Deus é o agente fertilizador que a engravida. Ele, como Senhor das Colheitas, é o grão colocado no seio da terra e que germinará no tempo certo, crescerá e será ceifado. Ele morre, mas assegura que a perpetuação da semente, que novamente irá impregnar o ventre da Deusa. A Deusa é eterna, ao passo que o Deus tem uma natureza cíclica. 

Muitos antigos deuses devem ter tido sua origem no Deus de Chifres pré-histórico, e tanto Cernunos, Pã e Dionísio são deuses associados à terra, à vida selvagem e aos prazeres terrenos. Do mesmo modo, todos eles possuem, como a Deusa, três aspectos: o aspecto de deus da fertilidade e dos prazeres, da fecundidade e da proteção da vida e de ceifador e destruidor da vida.

Nos Mistérios ancestrais da Wicca, o ciclo divino representado pelo Deus está intimamente ligado à transformação, aos ciclos do reino vegetal, traduzidos em vida, morte e renascimento e que são a base do dogma wiccaniano da reencarnação.

Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.



quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A DEUSA E SEU CHAMADO

 


A concepção mais antiga de divindade que se conhece é a Grande Mãe. Perdeu-se no tempo a origem de seu culto, mas podemos afirmar que remonta à época Paleolítica, por volta de 40000 anos a.C.

Um de seus maiores atributos é o de doadora da vida, aquela que acolhe a tudo e a todos em seu seio, os nutre, alimenta e protege. Identificada com a própria Terra, que oferece a vida e a fertilidade, a Deusa em seu aspecto de Mãe é o princípio básico de tudo. Observações dos movimentos da Natureza permitiram aos povos pré-históricos desenvolverem as bases de sua religião. Da Terra todas as coisas provém e para ela todas as coisas retornam. Os povos antigos retiravam dela o alimento necessário à sobrevivência diária, uma vez que as tribos ainda viviam em estado nômade, seguindo as mudanças climáticas favoráveis, e praticando uma cultura extrativista de subsistência; ainda não havia surgido a agricultura nem a criação de animais domésticos.

Em dezenas de sítios arqueológicos foram encontradas representações de deusas, chamadas de Vênus. São pequenas figuras femininas, nas quais as características sexuais são bastante acentuadas: seios, coxas e nádegas, numa alusão flagrante de que os princípios de fertilidade e reprodução estão ligados à energia vital. Apresentam o ventre proeminente, ostentando uma gravidez inegável. É através da gravidez que as mulheres trazem nova vida ao mundo e é através da gravidez divina que a Deusa cria e perpetua a existência.

Os povos antigos viam a divindade como feminina: uma vez que era a mulher que dava à luz novas crianças para a tribo, somente uma deusa poderia perpetuar a criação. Nesse período, ainda não se tinha noção da participação do homem no ato da fecundação. Acreditava-se que a gestação era um acontecimento mágico e divino, e que as mulheres eram sagradas, pois garantiam a perpetuação do clã.

Também observava-se que que todas as coisas vivas tinham um tempo de duração, que tudo nascia, crescia e morria. Assim, a Deusa, além de ser cultuada como a Mãe que dá a vida, passou a ser vista também como a Mãe Terrível, a destruidora, aquela que governa a morte. A Deusa, a geradora de povos, a terra fértil que a tudo sustentava, era também aquela que tomava de volta a vida. Sua natureza ambígua, como geradora da vida e portadora da morte, causava reverência e temor.

Os cultos matrifocais centrados na Deusa perduraram até o início da Idade do Bronze, quando invasões de povos vindos do norte trouxeram concepções religiosas patriarcais.

As primeiras sacerdotisas foram inegavelmente as mulheres que cuidavam da manutenção da vida doméstica. Supomos que uma das primeiras percepções sobre o movimento cíclico da natureza, de vida, morte e renascimento aconteceu justamente quando essas mulheres, após as refeições, depositavam as sobras dos alimentos em algum lugar determinado. Os restos de sementes e frutas que caíam sobre o solo ou que eram enterrados, terminavam por germinar, cumprindo seu ciclo inevitável. Talvez aqui estejam os primórdios dos cultos funerários e da certeza de um retorno à vida após a morte. Aquilo que era enterrado novamente germinava, voltava à vida. Assim, aqueles que morriam, deveriam ser colocados na Terra, o seio da Mãe, para que pudessem retornar novamente. As cavernas passaram a representar o útero da Mãe, a promessa de um retorno na primavera seguinte. O início da crença na reencarnação.

As fases da Lua estão intimamente ligadas à Deusa nos seus três aspectos. Deusas gregas como Ártemis ou Atimite, que regiam os nascimentos, Arádia, Diana e Hécate, que, identificadas com a Lua, personificavam o dogma da transformação e da reencarnação. As fases crescente, cheia e minguante refletem diretamente essa espiral sagrada e cíclica vital.

A identificação da Deusa com a Lua é muito antiga e está relacionada com as alterações do corpo da mulher durante a gravidez. Os ciclos lunares nos ensinam a perceber, em nosso próprio interior, os movimentos ambíguos de luz e trevas, crescimento e diminuição e a trabalhar esses aspectos.

Esse fundamento é muito enfocado na Wicca Gardneriana, que opera com as polaridades e as marés energéticas. Entretanto, para que possamos compreender todo esse Mistério, precisamos vivê-lo internamente, percebê-lo como um processo natural, identificá-lo e aceitá-lo. O que chamamos comumente de "ouvir o Chamado da Deusa" começa necessariamente com uma sensação de desconforto íntimo, devido às dualidades inerentes à natureza da Deusa e que existem em nosso interior. A Deusa é Luz, mas também é Sombra, é Vida, mas também é Morte, é Crescimento, mas também é Diminuição, etc. Trata-se de um processo penoso e de difícil compreensão; infelizmente, hoje em dia, a maioria das pessoas entra na Wicca pela  porta dos fundos, e ouvir o Chamado da Deusa tornou-se algo semelhante a uma festa florida e superficial, na qual nem mesmo os participantes estão muito seguros do que estão fazendo lá.

Na verdade, a Deusa nos chama proporcionando um sentimento de vazio e de perda, como se tudo aquilo que nos cercasse e todas as coisas nas quais acreditássemos se tornassem, de um momento para o outro, sem nenhum sentido. A Deusa é sábia nas suas ações, do contrário, se não perdêssemos o sentido de importância que damos à nossa vida cotidiana, não teríamos espaço interno para recebê-la. Assim, tudo se torna vazio, pó sobre pó. Para se construir um novo edifício, é preciso demolir o antigo e limpar completamente o terreno.

O perigo que existe no processo de encontro com a Deusa é justamente o desencanto que passamos a ter de tudo o que nos cerca. Se não tivermos alguém mais experiente que nos oriente, podemos entrar em colapso. Sinceramente não creio em afirmações de que o Chamado da Deusa aconteceu de outra maneira, porque é sempre da maior escuridão da madrugada que nascem os primeiros raios de luz da manhã. 

Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Os Ciganos e a boa sorte. Lendas Ciganas.


"Só entendemos o ‘milagre da vida’ quando deixamos o inesperado acontecer. 
Todos os dias, Deus nos dá, junto com o sol, um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixou ‘infelizes’. Todos os dias tentamos fingir que não percebemos aquele momento, que esse momento não existe, que hoje é igual a ontem e será igual a amanhã. Mas quem presta atenção no seu dia, descobre o ‘momento mágico’ - ele pode estar escondido em qualquer lugar."


Para os ciganos, encontrar no chão um anel, pulseira, uma correntinha ou outra joia é um símbolo de boa sorte, pois afirmam que tudo o que você mentalizar naquele momento ocorrerá e você terá muito sucesso.

Essa tradição vem de quando viajavam em caravanas, quando alguém via algo brilhante no chão paravam a sua marcha, amarravam esse objeto com uma fita ou corda na pata dianteira direita do cavalo e não o tiravam até que chegassem ao seu destino. Uma vez lá, esse objeto era usado como talismã protetor, pois emanava uma energia muito positiva. Depois entregavam o amuleto ao cigano que achassem mais conveniente leva-lo consigo. 

Hoje em dia, para manter o costume, ao encontrar uma joia, a deixam por um tempo em um lugar sem tocá-la, ao que parece, para descarregar seus males, ficando depois totalmente liberada do negativo, para ser usada como signo benéfico.

As ferraduras também são um símbolo de boa sorte para os ciganos; tomavam parte da vida de todos os povos que se deslocavam. Não ter ferraduras, perdê-las ou não mantê-las em perfeito estado, era sinônimo de desgraças; por isso, quando se gastavam ou se quebravam, automaticamente as atiravam nas estradas; de igual maneira quando encontravam ferraduras, tinham que joga-las para trás, sem olhar, entendendo que assim a vida lhes daria a melhor sorte. Este costume está associado à ideia de que a ferradura perdida está estreitamente vinculada ao passado, porque a ele representa; portanto, o mais conveniente para obter um maravilhoso futuro é poder libertar-se dos fardos do passado.

Por outro lado, receber uma ferradura de presente é um presente inestimável; nesse caso funcionará como um talismã protetor, colocada próximo à porta de entrada da casa, com a abertura voltada para cima, irá neutralizar todas as vibrações negativas do local, bem como das pessoas que nelas entram.

O metal é muito importante para este povo; os utensílios de cozinha de metal (especialmente tachos e panelas) só devem ser lavados quando estritamente necessário; para eles, bastava mergulhá-los em água e passá-los pelo fogo, para eliminar todos os males. Um pote que quebrasse, rachasse ou tivesse buracos tinha que ser destruído, descartado, porque representava a chegada de uma época de má sorte.

Os utensílios de cozinha (concha, escumadeira, etc.) eram pendurados na vertical para que absorvessem a energia positiva da terra, de significado vital para os ciganos.

Para o cigano, o lenço (diklô) representa um elemento de proteção, por isso são comumente vistos com o lenço na cabeça; para conservar suas boas ideias, sonhos e projetos. O lenço também lhes evoca a representação do quadrado mágico, símbolo de grande poder. Quando as caravanas paravam ou se reuniam para descansar formavam sempre um quadrado e no centro deste acendiam uma fogueira, em torno da qual se expressava a vida; ali acontecia a verdadeira magia. O lenço também é usado em rituais para prevenir a infidelidade, quando percebem que alguém está rondando procurando seduzir seu parceiro. Neste ritual, o coração e a sexualidade do rival em potencial são fechados para que ele deixe a pessoa em paz.

É também um elemento ligado à virgindade, noutros tempos a noiva era submetida, antes do casamento, a um teste que consistia na verificação da sua virgindade. Para isso, envolviam algum objeto no lenço e as mulheres que tinham maior confiabilidade e reconhecimento no ambiente se encarregavam de introduzi-lo na vagina da noiva, a fim de corroborar quando saísse, o aparecimento de sangue, que representava a ruptura do hímen. Ainda hoje, algumas comunidades utilizam um rito semelhante nas cerimônias conjugais; só que não esperam mais garantir a virgindade; então a mãe insere o lenço com o dedo dentro dos órgãos genitais da filha e, ao retirá-lo, a noiva o agita com total alegria; que também celebra o noivo como símbolo da pureza da mulher com quem unirá sua vida.

O povo cigano passou a maior parte da vida viajando, e a única forma que tinham para se orientarem à noite foi guiando-se pelas estrelas. Embora para quase todo mundo seja sinônimo de prosperidade e excelente presságio ver uma estrela cadente, para os ciganos, que reivindicam o privilégio de serem os autores desta lenda, é ainda mais. Quando um cigano se emociona ao observar o céu e intui a fugacidade daquela luz, ele se sente protegido porque se afasta da escuridão, dos espíritos negativos e das trevas. A partir desta forte convicção, anéis ou colares com estrelas são dados como presentes, e em alguns casos, com as iniciais do nome de quem os usará gravadas neles. Certeza que carregam na hora de escolher os lenços que vão usar na cabeça, os retalhos com que confeccionaram suas saias e a sedução de brilhos, cores e formas com que costumam deslumbrar nosso olhar.

Os dedos das mãos, embora para alguns grupos ciganos signifiquem uma coisa, para outros têm um significado completamente diferente. Para os ciganos, os dedos das mãos têm personalidade própria e por isso devem ser estudados.

Na quiromancia, o polegar é o dedo mestre e o ângulo formado entre ele e o indicador indica a independência da pessoa. O dedo indicador é o dedo da decisão, o dedo médio simboliza a vocação de lutar contra o destino. O dedo anular mostra os estados do coração, tanto físicos quanto mentais. O dedo mínimo é usado para tocar objetos pelos quais não se deseja pagar nada, mas se isso não for mais permitido, simboliza a fantasia.

Os ciganos utilizam outros métodos de adivinhação para reforçar suas predições, entre estes métodos estão:

Tarot, baralho Petit Lenormand, chumbo derretido, borra de café, conchas, pedras, moedas, dados, dominó, agulhas, ossos de galinha, punhais, entre outros.

Na Hungria, as ciganas costumam adivinhar com tambores sobre cuja pele estão desenhados três círculos pretos e três brancos. Sobre o tambor são colocadas favas ou feijões e se adivinha dependendo da posição em que as sementes ficaram.  


LENDAS CIGANAS

  • Numa época muito remota, os ciganos foram acolhidos na Caldéia, vindos do leste da Índia, pela sua experiência no trabalho com metais, especialmente bronze e ouro.

Na terra dos magos, se iniciaram no profundo conhecimento dos astros, suas leis e influência nas vidas humanas. Munidos deste conhecimento claramente valioso, decidiram seguir o patriarca Abraão na sua peregrinação à terra de Canaã.

Seguindo as vicissitudes da história indiana, chegaram ao Egito na época de José, aquele que sonhava, onde apresentaram sua arte e sabedoria aos poderosos faraós.
Quando Moisés conduziu o povo escolhido através do Mar Vermelho, um rapaz e uma moça ciganos escaparam tanto da ira do Faraó como do afogamento e se tornaram o Adão e a Eva dos ciganos.


  • Os ciganos, como toda a raça humana, descendem do pai Adão... mas não de Eva.
A primeira mãe dos ciganos foi outra mulher que precedeu a tentadora Eva. Portanto, e com toda a lógica, os ciganos estão isentos do pecado original e não são obrigados a trabalhar nem a ganhar o pão com o suor do rosto.


  • Os ciganos Kalderash, de Lyon, contam que seu ancestral, um ferreiro, fizera 12 pregos para crucificar a três homens.
Ciente de que três (3) é o número da bênção, escondeu um dos pregos, com a ideia de que o homem que fosse crucificado com 3 pregos, em vez de 4, seria o homem da bênção.
Isto permitiu ao ferreiro cigano descobrir o SUNTO DEL, ou seja, o Deus Santo, segui-lo e entrar no paraíso na melhor das companhias.