Sabemos que os espíritos ciganos muitas vezes têm um trânsito grande dentro do plano espiritual, alcançando e cruzando o plano intermediário com facilidade; contudo, é importante se reafirmar que os ciganos e toda corrente cigana que trabalham no plano positivo não trabalham em giras do plano negativo, ao contrário do que defendem alguns, mantendo-se cada um em seu próprio plano, seus próprios reinos de atuação e seus tratamentos diferenciados na medida em que nos for possível. Assim sendo, tratamos aqui de firmar forças ciganas que militam no plano positivo, o que não quer dizer que seu plano de atuação seja menor ou maior do que as que militam no reino negativo. Apenas mantêm relações que não se confundem no plano astral e diante do plano material e dos espíritos encarnados e seus feitiços. Dessa forma, passamos a descrever como se poderá firmar as forças de uma cigana em ritual específico cigano para que mais presente esteja seu axé, sua força, sua luz, e mais eficaz seja todo tipo de magia emanada por esse reino maravilhoso. No plano negativo, como já descrevemos anteriormente, os assentamentos de ciganos não se confundem com essas modestas informações, sendo claro que, respeitadas as devidas proporções e suas peculiaridades, são feitos de acordo com os mandamentos do mundo negativo em relação ao mundo material. Sabemos ainda que todo assentamento ou firmeza que se propõe a fazer, na verdade, não só promove a abertura de um facho no mundo astral, mas também a relação de proximidade com o portal mágico respectivo, deixando claro que naquele momento se promove um pacto de trabalho espiritual e de relação muito próximo entre o espírito cigano, não importando qual seu reino de atuação, e aquele cuja magia estiver sendo feita, firmada ou assentada.
É importante nessa oportunidade desmistificar a ideia de que algumas casas ou quem quer que seja, tenham o potencial de retirar do médium aqueles ciganos, ciganas ou qualquer de seus mentores que trabalham consigo, bem como produzir qualquer tipo de mal, como amarração ou feitiço, que seja capaz de promover a indolência ou o prejuízo daquela entidade, que não estão sujeitas ao poder que alguns companheiros encarnados acreditam possuir, deixando a certeza absoluta de que cada um segue com o que é seu, sem a menor possibilidade de lhe ser retirada a proteção ou qualquer mentor que mantenha por obra da própria Lei Universal espiritual.
Entretanto, é recomendável que se mantenha sempre sob seus cuidados toda e qualquer firmeza ou assentamento; deve-se ter cuidado para que maus irmãos ou companheiros não promovam com sua maldade a única interferência possível, que é a de tentar desaproximar o mentor do médium, dando à firmeza ou ao assentamento o tratamento errado, que de qualquer forma não perdurará por muito tempo, mas criará um aspecto diferenciado naquela relação, que o médium acabará consequentemente por ressenti-la, até que a própria natureza universal o restitua à sua própria normalidade ou ele mesmo promova com rapidez o tratamento ideal. Assim como é loucura e falta de instrução a respeito da espiritualidade e nossa relação com ela, acreditar que é possível aprisionar, tirar, manter sob sua guarda ou comandar qualquer entidade, de quem quer que seja, como se tivéssemos o poder divino sob nossas mãos, e assim subestimar todo um comando, ou reino de força, e até mesmo a própria entidade com quem se pretende o pacto de trabalho espiritual e seu potencial.
Dessa forma, não devemos esquecer que promover a firmeza de uma entidade junto a nós nesse pacto de força é uma responsabilidade inalienável e de grande monta, devendo neste ato ficar claro que, quem o desejar e o fizer, leva consigo a responsabilidade devida e o conhecimento de que, a partir desse ato, seu dever junto àquela entidade, junto ao plano espiritual e à comunidade encarnada, passa a ter o preço merecido e desejado.
COMO FIRMAR O ESPÍRITO DE UMA CIGANA NA DIREITA
O que muitas vezes pode parecer simples não quer dizer que não seja eficaz ou que não tenha a importância esperada. O que mais se destaca em todo tipo de firmeza ou pacto é o tanto de si que se desprende naquele momento e se envolve com a companheira ou companheiro do lado espiritual, misturando assim suas energias e mantendo-se próximos efetivamente, o que com o tempo acaba por somatizar aquelas diferenças positivas acumuladas. Todo e qualquer objeto utilizado ou que seja extraído da própria natureza leva consigo seu potencial e sua força de recepção, que sem o livre arbítrio destinado ao homem e a alguns animais passa a ser parte integrante daquela relação e comando. Assim, para que possamos de maneira branda atingir nosso objetivo, utilizamo-nos de fundamentos simples e de admirável importância dentro do ritual cigano.
Primeiramente deve-se colher um tanto de areia de rio sem que ela esteja tocada por suas águas. Em seguida, pega-se um otá que aceite comida e se enterra no lugar do qual se retirou aquela areia, deixando-o descansar por três dias, passados os quais desenterra-o e, colocando aquela areia inicialmente retirada em uma terrina de louça branca ou bege, enterra-se ali o otá à noite, no início da fase de lua nova, onde deverá permanecer a céu aberto durante toda essa fase, durante toda a fase da lua crescente, devendo ser retirado somente no primeiro dia da chegada da lua cheia, antes do amanhecer. No momento em que se desenterrar o otá deve-se mostrá-lo à Lua e pedir que a cigana (dizendo o nome dela) naquele instante aceite aquele otá, voltando-o para dentro da terrina, que durante todo o tempo deve se manter destampada, não importando o clima ou o tempo que fizer, ao contrário, estará diante do axé necessário, não enterrando-o desta vez, apenas mantendo-o em aguardo. Depois, fazer um chá-mate bem forte, misturado com noz moscada ralada e, quando estiver frio, retirar o otá e mergulhá-lo no chá até que absorva bem aquele líquido, deixando-o 24 horas sob aquele chá. Após feito isso, leva-se à noite com as mãos o otá à lua cheia, e novamente se evoca a cigana que se deseja firmar, pedindo a ela que aceite aquele otá novamente e que seja sua mensageira na Terra, repetindo por três vezes seu nome de força.
Depois disso, arma-se um pequeno altar, como já foi explicado, colocando-se a terrina por detrás com a areia, à sua frente uma taça incolor com o otá dentro e mais sete moedas antigas à volta do otá. Saúda-se a cigana e alimenta-se aquele otá com óleo de almíscar naquele momento, devendo-se iluminar suas laterais com uma vela de sete dias branca do lado esquerdo do observador e outra da cor de vinculação de axé daquela cigana que se pretende firmar; pode-se não se conhecer a cor, nesse caso colocar amarela, vermelha, verde ou rosa, sempre de sete dias, até que seja definida a cor corretamente pela própria cigana.
À frente da taça e das velas, coloca-se uma oferenda de frutas doces e sem espinhos, abertas, em um recipiente de vime, e doces finos, devendo-se iluminar com mais uma vela branca comum por, no mínimo, 24 horas. Passado esse tempo, despacha-se a oferenda debaixo de uma árvore frondosa e bonita, iluminada com outra vela branca comum. Esse procedimento deverá ser repetido ao menos uma vez a cada 30 dias, devendo, contudo, alimentar-se o otá com óleo de almíscar uma vez por semana, sempre que possível no mesmo dia e horário, colocando-se ao lado da vela branca comum um copo d'água que será sempre dispensado e reposto a cada tratamento do otá, pedindo-se sempre muita sorte, axé e força. Todo tipo de firmeza ou magia deve ter presente sempre muita força interior, amor e muita confiança no que se está fazendo, momento em que as energias se alcançam e começam a se unir, causando o efeito esperado. Pode-se ainda, sempre que precisar, fazer seus pedidos especiais aos pés daquele altar cigano, ou submete-lo por escrito, para si ou para quem quer que seja, e colocá-lo por debaixo da taça no momento em que alimentar o otá, podendo tirá-lo quando conseguir o que pediu ou no próximo tratamento; tratando-se de um pedido difícil, é de muito bom senso fazer-se uma pequena oferenda no instante de sua submissão. Deve-se, ainda, sempre que puder, conversar naquele altar com muita naturalidade e fé, porque ali estará uma entidade de muita força e bastante luz. Recomenda-se, ao contrário do que habitualmente muitos fazem, não oferecer bebidas alcóolicas, que nesse instante estão substituídas por água.
Recomenda-se, também, no primeiro tratamento após o oferecimento e a colocação do otá na taça, bem como sempre que for alimentá-lo semanalmente, fazer uma oração branda irradiando bons sentimentos.
Nota: Ciganas costumam aceitar licores, não bebida rosé, e ciganos aceitam vinho tinto ou licor de anis.
COMO FIRMAR O ESPÍRITO DE UM CIGANO NA DIREITA
Procede-se da mesma forma anteriormente descrita, com a diferença de que no instante das velas deverá se manter, conforme orientado, a vela branca de sete dias, e a cor da vela de vinculação de axé do cigano deverá ser azul, vermelha, verde, lilás e jamais preta, marrom e roxa, tanto para ele quanto para a cigana.
O otá não deverá jamais ser colocado em nenhuma taça, devendo sim permanecer na terrina, ou em uma cumbuca de barro, por cima da areia do rio, e ali ser alimentado com as moedas antigas à sua volta, e também com óleo de almíscar. Na oferenda feita à sua frente, além das frutas, deverá levar, em vez de doces finos, uma romã com sua parte superior talhada em seus quatro cantos. Devendo a oferenda após o prazo descrito também ser entregue debaixo de uma árvore frondosa, de preferência em uma praça bonita e que de dia mantenha bastante movimentação pública, ou ainda próxima a casas comerciais, iluminada no momento de sua entrega com uma vela branca comum, seguindo todas as demais orientações anteriores.
Obviamente esse tratamento referenciado poderá sofrer as alterações que a própria entidade indicar.
Todo e qualquer agrado ou presente que se pretende fazer ou dar aos espíritos de ciganos firmados naquele altar pode ser seguido de sua respectiva imagem por trás da taça ou da cumbuca, bem como pulseiras, punhais sem corte, baralhos, peças preferencialmente de ouro, ou qualquer outro tipo de coisa que se pretenda presentear, ou que pertença à entidade e que é de seu uso em seus trabalhos, deverá sempre permanecer neste altar, próximo ao recipiente que contém o seu otá.
Não se costuma fazer cantigas de qualquer ordem nesses momentos, salvo aquelas que forem especificamente ciganas, bem como deve se dar a preferência a se fazer orações.
Todo e qualquer feitiço, magia ou reza que se faz, deve seu feitor naquele instante desprender de si o máximo de energia que puder, concentrando-a e dirigindo-a ao que está fazendo, um dos grandes momentos da magia e do feitiço é a projeção forte, firme e bem visualizada da imagem nítida em sua mente de quem ou o que se pretende atingir, carregando naquele instante toda a emoção que puder expelir de seu coração, corpo e mente, intensificando-a o máximo possível a cada passo e a cada instante naquilo que se está fazendo. O emocional deve estar forte, intenso e firmemente dirigido ao que se deseja, convicto do que se quer, devendo transmitir isso, o máximo possível, ao ritual que se está praticando naquele momento.
A partir da colocação do otá no recipiente necessário, deve-se ter um incensário seguido do respectivo incenso, que deverá estar 24 horas aceso, ou seja, por todo o tempo o altar deverá estar sob a vibração provocada pelo incenso. Para uma cigana espiritual, e não se tendo ainda definido o tipo de incenso, deixe aceso sempre um incenso de rosa, emanando boas vibrações, ou de ópio, produtor de grande energização ambiental; para um cigano espiritual, incenso de madeira ou de lótus. Quando você sentir necessidade de fazer uma purificação energética ou descarregar o ambiente onde o altar está firmado, ou mesmo em sua residência, poderá, além dos incensos citados, acender um incenso de alecrim ou de mirra, e deixar que queime até seu final, sem interferência, sempre procurando não usar esses incensos extras em excesso para que não ocorra desestabilização vibratória no ambiente. Lembre: no momento de acender um incenso, evocar um cigano seu conhecido ou preferido ou seu próprio mentor para ser dono ou destinatário daquela queima.
(Ciganos e a Espiritualidade - Teoria e Prática - Nelson Pires Filho - Ed. Madras)