quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

NUDEZ NA WICCA

 

Por que, afinal, bruxos e bruxas sempre trabalharam "vestidos de céu" (despidos)? Gerald Gardner, o responsável pelo renascimento da Bruxaria na atualidade, nos disse em seu livro, Witchcraft Today, que os bruxos atuam nus porque o ritual deles manda que assim seja feito, e porque suas práticas são remanescentes de uma religião da Idade da Pedra e eles conservam seus antigos caminhos. Mas a explicação dos bruxos é a melhor: "Porque só desta maneira podemos alcançar o poder".

Bruxos aprendem e acreditam que o poder reside dentro de seus corpos, o qual eles podem  liberar de vários modos, o mais fácil sendo dançando num círculo, cantando e gritando, para induzir uma exaltação; eles acreditam que o poder transpira de seus corpos, as roupas impedindo sua liberação.

Num ritual, no qual o círculo é devidamente lançado e projetado, usando as técnicas de geração de poder, o coven se encontra no que chamamos de "floresta entre os mundos", um estado dimensional intermediário entre o mundo material e o plano astral, no qual se perde totalmente a noção de tempo, por exemplo. É uma "brecha" aberta, um canal de comunicação com o mundo dos elementais e o Reino dos Poderosos e dos Deuses. O poder sai dos nossos corpos diretamente para o plano acima; todos os participantes do círculo não estão mais no plano físico, mas num "limbo", uma dimensão intermediária.

Se você possui clarividência, pode ver o poder ser levantado. Pode constatar por si mesmo a diferença entre usar uma túnica folgada e não usar nada. O campo eletromagnético que circunda nosso corpo é o responsável pela condução da energia levantada no círculo. Estar nu é renunciar e afastar-se do mundo, é igualar-se a todos os demais membros do grupo, a nudez representa nosso despojamento dos condicionamentos e dos valores sociais. As roupas, mesmo as confeccionadas com fibras naturais, têm sua vibração e energia próprias, que terminam interferindo com a energia gerada pelos participantes do círculo. Quando aprendemos a lidar com energias, passamos a saber que determinadas vibrações inibem o poder levantado. As vibrações dos tecidos são uma delas.

Nudez e sexo sempre foram elementos estritamente ligados à Arte. Os dois são poderosos, produzem enorme quantidade de energia. Nos antigos Ritos Misteriosos da Wicca, o sexo sempre foi visto como um enorme reservatório de poder a ser explorado e utilizado. Sexo é o caminho da criação, o portal de entrada para este mundo e para a vida. Sua sacralidade reside no princípio transformador, que a partir das polaridades produz a vida. Todos os processos de transformação estão relacionados aos Mistérios sexuais e sua magia. Sua culminância é a realização do Grande Rito, durante a iniciação ao Terceiro Grau, mas se observarmos atentamente, todos os Mistérios iniciáticos da Wicca estão de certa forma ligados à sexualidade.

Os óleos do Sabá, antigamente, eram misturados com fuligem ou carvão moído, o que produzia uma pasta escura e escorregadia. Os bruxos untavam todo o corpo com ela e partiam nus para o ritual, o que de certa forma os mantinha aquecidos até o momento das danças começar. A fuligem ou o carvão moído os tornavam invisíveis à noite. Eles iam nus para os encontros porque, se fossem atacados pela polícia, não teriam tempo para se vestirem e então deixariam para trás roupas incriminadoras. Outra coisa era que eles perceberam que os policiais normalmente não conseguiam agarrar uma garota nua, mas pegavam uma vestida. Os corpos oleosos e escorregadios tornavam-se difíceis de ser apanhados.

domingo, 15 de dezembro de 2024

A MAGIA DAS ÁRVORES

 

As árvores podem nos ajudar a restabelecer energias perdidas, quando estamos fracos ou doentes. Também, quando sentimos que estamos com o organismo debilitado devido a alguma negatividade, que pode causar mal-estar, angústia e tristeza, podemos apelar para a ajuda de nossas amigas árvores.

Todas as árvores são diferentes em termos energéticos, mas a maioria delas serve para nos ajudar a reequilibrar nossas forças e energias perdidas, afastando nosso sofrimento e a negatividade que tenhamos recebido de alguém ou de algum local.

Tudo que é vivo possui um campo eletromagnético, inclusive as árvore, que também possuem Centros de Poder (chacras) que sustentam seu campo vital. As plantas e as árvores são seres conscientes, que possuem um sistema nervoso tremendamente desenvolvido, demonstram sentimentos e preocupações e estão ativamente integradas no sistema vital da nossa Grande Mãe Terra.

Você pode experimentar com cada tipo de árvore, mas o mais importante é desenvolvermos uma sensibilidade tal, que possamos saber qual o tipo de energia mais apropriado ou que melhor é assimilado por nosso corpo.

O ideal é você ter sua própria árvore em seu jardim, mas se isso não for possível, encontre uma num bosque ou parque, longe dos caminhos ou ruas por onde passam muitas pessoas e com a qual você poderá estabelecer um elo mágico e pessoal.

Antes de escolher a árvore, verifique se ela está sadia, se não está perdendo as folhas. Essa primeira avaliação visual é importante, mas também existe a possibilidade de a própria árvore rejeitar compartilhar sua energia conosco por algum motivo. Por isso é importante percebermos que sensações as árvores nos passam, antes de trocarmos energias com elas.

Em primeiro lugar, abrace o tronco da árvore e converse com ela, explique o que você está pretendendo fazer e por quê. Toda árvore é uma antena viva, que recebe energias do cosmos e da Terra. Assim, ao abraçarmos uma árvore, estamos nos conectando com o poder que ela absorve da Terra e nos transmite. Do mesmo modo, ela absorve as energias negativas que assimilamos no dia-a-dia e as devolve para a terra, fazendo um aterramento de tais energias, que são transformadas e purificadas. 

Abrace o tronco da árvore e sinta a sua energia. Que sensação ela lhe passa? De receptividade ou de rejeição? Isso é importante, porque nos diz se ela está pronta para trocar energias conosco ou não.

Caso o sinal seja positivo, sente-se junto à árvore, de preferência sem camisa e encostando a coluna em seu tronco. Imagine que as energias vindas do centro da Terra sobem pelas raízes da árvore e pelo seu caule e passam agora para você, através da base da sua coluna. Sinta o poder subindo pelo seu corpo.

Essa sensação pode ser um leve formigamento ou uma sensação de calor. 

Você pode unir suas raízes às da árvore, unindo-se com ela à Terra e aos elementos, içando o poder.

Fique assim por uns três minutos e então se separe do tronco da árvore. Abrace-a novamente, agradecendo-lhe pela ajuda recebida, pelas energias benéficas e curativas que ela lhe proporcionou.

A interação entre os bruxos do passado e as árvores é muito antiga, uma cooperação na qual os benefícios sempre foram mútuos. Nossas árvores estão sempre doando sua energia excedente. Esse conhecimento foi, durante muito tempo, mantido em segredo. Era um legado do paganismo, que a Igreja procurou destruir, implacável, durante mais de mil anos. Quando passamos a estabelecer uma relação efetiva com nossas árvores e com o ambiente natural que nos rodeia, percebemos mudanças enormes no nível de vitalidade e em todo o nosso potencial energético.


Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.

O DEUS DA WICCA

 

O Deus de Chifres é a personificação do Senhor das Florestas, da própria fertilidade, o agente que torna possível a fecundação e a renovação da vida. Sua mais antiga representação é a do Deus com chifres de alce, que encarnava o próprio espírito da floresta, o Senhor dos Animais, poderoso e indomável.

Nos primórdios da vida humana, quando as tribos ainda eram nômades, a busca por alimentos durante os meses de inverno era tremendamente difícil. Surge, então, a figura do caçador, que no inverno partia em grupos para assegurar a sobrevivência dos demais. É interessante notar que da prática da caça, exercida pelos homens mais valentes da tribo que, arriscando a própria vida, passavam muitas vezes semanas longe de casa, surgiu uma espécie de culto à divindade encarnada no próprio animal caçado. Esses caçadores primitivos acreditavam que o alce, o grande e temido animal selvagem, era a encarnação do Senhor da Floresta, e que vinha oferecer-se em sacrifício, doa a própria vida para o benefício da humanidade.

Dessa antiga crença, surgiu toda uma prática ritualística em torno do animal caçado. Ao ser abatido, ele era desossado. Seus ossos eram enterrados na floresta, devolvido ao seio da Mãe para que ele pudesse renascer no ano seguinte, assegurando a renovação da caça e a abundância de carne para a tribo.

É interessante como o culto ao Deus de Chifres está intimamente relacionado com o culto da Deusa, e não pode existir separado dele. Também bastante interessante aqui é que encontramos nesses ritos tão antigos os primórdios do conhecido mito do sacrifício divino, que se tornará o tema central de quase todas as religiões.

Com o passar do tempo, e o surgimento dos primeiros rudimentos da agricultura, introduzidos pelas mulheres através dos ritos centrados na Deusa, as tribos começaram a se tornar sedentárias. Nessa transição, da fase coletora para a da agricultura, surgiram as primeiras tentativas de domesticação de animais. Talvez um dos primeiros animais domesticados tenha sido o touro, que, além de ser excelente para arar a Terra, proporcionava ótima carne. Aqui, observamos uma significativa transformação da representação do Deus de Chifres, que passou a ser cultuado com chifres de touro. Isso ocorreu paralelamente ao início da Era de Touro, que assinalou o surgimento das primeiras religiões patriarcais.

Com o progressivo aumento da importância atribuída ao Deus, o prestígio dos caçadores também aumentou. Paralelamente, dois cultos coexistiram, aquele do Deus de Chifres dos caçadores e o da Deusa. Não se sabe em que época ocorreu a fusão dos dois cultos em um só, mas o certo é que isso pode ter acontecido mediante a união ou casamento entre o líder caçador, sacerdote do Deus de Chifres, e a sacerdotisa da Deusa. Da união desses dois cultos, surgiu uma mitologia e uma simbologia centrada nas polaridades sagradas, representadas pelo casal divino. A celebração do casamento entre os sacerdotes desses cultos espelhava a união mística e sagrada dos deuses, e os próprios sacerdotes eram tidos como portadores da energia divina na terra. Essa tradição se preservou durante milhares de anos, tornando-se um dos maiores festivais do paganismo, o Beltane, a época de vitalidade e da fertilidade, quando o Deus engravida a Deusa. 

Mais tarde, quando as tribos e clãs se tornaram realmente sedentárias e a criação de animais domésticos torna-se um fator decisivo na economia e no fornecimento de alimentos, uma nova metamorfose teve lugar, quando o Deus passou a ser representado com chifres de bode. Tanto o touro quanto o bode encarnavam muito bem a essência viril e fértil do Deus, e séculos depois, divindades como Dionísio ainda possuíam tais atributos sexuais, que simbolizavam a renovação e a virilidade.

O Deus passa a ser o consorte da Deusa, porque, mesmo com o avanço do patriarcado, o simbolismo do Deus só pode ser compreendido através dela. Entretanto, além de seu consorte, ele é também seu filho, porque é por ela gerado. A Deusa é a terra fértil que tudo sustenta, e o Deus é o agente fertilizador que a engravida. Ele, como Senhor das Colheitas, é o grão colocado no seio da terra e que germinará no tempo certo, crescerá e será ceifado. Ele morre, mas assegura que a perpetuação da semente, que novamente irá impregnar o ventre da Deusa. A Deusa é eterna, ao passo que o Deus tem uma natureza cíclica. 

Muitos antigos deuses devem ter tido sua origem no Deus de Chifres pré-histórico, e tanto Cernunos, Pã e Dionísio são deuses associados à terra, à vida selvagem e aos prazeres terrenos. Do mesmo modo, todos eles possuem, como a Deusa, três aspectos: o aspecto de deus da fertilidade e dos prazeres, da fecundidade e da proteção da vida e de ceifador e destruidor da vida.

Nos Mistérios ancestrais da Wicca, o ciclo divino representado pelo Deus está intimamente ligado à transformação, aos ciclos do reino vegetal, traduzidos em vida, morte e renascimento e que são a base do dogma wiccaniano da reencarnação.

Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.



quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A DEUSA E SEU CHAMADO

 


A concepção mais antiga de divindade que se conhece é a Grande Mãe. Perdeu-se no tempo a origem de seu culto, mas podemos afirmar que remonta à época Paleolítica, por volta de 40000 anos a.C.

Um de seus maiores atributos é o de doadora da vida, aquela que acolhe a tudo e a todos em seu seio, os nutre, alimenta e protege. Identificada com a própria Terra, que oferece a vida e a fertilidade, a Deusa em seu aspecto de Mãe é o princípio básico de tudo. Observações dos movimentos da Natureza permitiram aos povos pré-históricos desenvolverem as bases de sua religião. Da Terra todas as coisas provém e para ela todas as coisas retornam. Os povos antigos retiravam dela o alimento necessário à sobrevivência diária, uma vez que as tribos ainda viviam em estado nômade, seguindo as mudanças climáticas favoráveis, e praticando uma cultura extrativista de subsistência; ainda não havia surgido a agricultura nem a criação de animais domésticos.

Em dezenas de sítios arqueológicos foram encontradas representações de deusas, chamadas de Vênus. São pequenas figuras femininas, nas quais as características sexuais são bastante acentuadas: seios, coxas e nádegas, numa alusão flagrante de que os princípios de fertilidade e reprodução estão ligados à energia vital. Apresentam o ventre proeminente, ostentando uma gravidez inegável. É através da gravidez que as mulheres trazem nova vida ao mundo e é através da gravidez divina que a Deusa cria e perpetua a existência.

Os povos antigos viam a divindade como feminina: uma vez que era a mulher que dava à luz novas crianças para a tribo, somente uma deusa poderia perpetuar a criação. Nesse período, ainda não se tinha noção da participação do homem no ato da fecundação. Acreditava-se que a gestação era um acontecimento mágico e divino, e que as mulheres eram sagradas, pois garantiam a perpetuação do clã.

Também observava-se que que todas as coisas vivas tinham um tempo de duração, que tudo nascia, crescia e morria. Assim, a Deusa, além de ser cultuada como a Mãe que dá a vida, passou a ser vista também como a Mãe Terrível, a destruidora, aquela que governa a morte. A Deusa, a geradora de povos, a terra fértil que a tudo sustentava, era também aquela que tomava de volta a vida. Sua natureza ambígua, como geradora da vida e portadora da morte, causava reverência e temor.

Os cultos matrifocais centrados na Deusa perduraram até o início da Idade do Bronze, quando invasões de povos vindos do norte trouxeram concepções religiosas patriarcais.

As primeiras sacerdotisas foram inegavelmente as mulheres que cuidavam da manutenção da vida doméstica. Supomos que uma das primeiras percepções sobre o movimento cíclico da natureza, de vida, morte e renascimento aconteceu justamente quando essas mulheres, após as refeições, depositavam as sobras dos alimentos em algum lugar determinado. Os restos de sementes e frutas que caíam sobre o solo ou que eram enterrados, terminavam por germinar, cumprindo seu ciclo inevitável. Talvez aqui estejam os primórdios dos cultos funerários e da certeza de um retorno à vida após a morte. Aquilo que era enterrado novamente germinava, voltava à vida. Assim, aqueles que morriam, deveriam ser colocados na Terra, o seio da Mãe, para que pudessem retornar novamente. As cavernas passaram a representar o útero da Mãe, a promessa de um retorno na primavera seguinte. O início da crença na reencarnação.

As fases da Lua estão intimamente ligadas à Deusa nos seus três aspectos. Deusas gregas como Ártemis ou Atimite, que regiam os nascimentos, Arádia, Diana e Hécate, que, identificadas com a Lua, personificavam o dogma da transformação e da reencarnação. As fases crescente, cheia e minguante refletem diretamente essa espiral sagrada e cíclica vital.

A identificação da Deusa com a Lua é muito antiga e está relacionada com as alterações do corpo da mulher durante a gravidez. Os ciclos lunares nos ensinam a perceber, em nosso próprio interior, os movimentos ambíguos de luz e trevas, crescimento e diminuição e a trabalhar esses aspectos.

Esse fundamento é muito enfocado na Wicca Gardneriana, que opera com as polaridades e as marés energéticas. Entretanto, para que possamos compreender todo esse Mistério, precisamos vivê-lo internamente, percebê-lo como um processo natural, identificá-lo e aceitá-lo. O que chamamos comumente de "ouvir o Chamado da Deusa" começa necessariamente com uma sensação de desconforto íntimo, devido às dualidades inerentes à natureza da Deusa e que existem em nosso interior. A Deusa é Luz, mas também é Sombra, é Vida, mas também é Morte, é Crescimento, mas também é Diminuição, etc. Trata-se de um processo penoso e de difícil compreensão; infelizmente, hoje em dia, a maioria das pessoas entra na Wicca pela  porta dos fundos, e ouvir o Chamado da Deusa tornou-se algo semelhante a uma festa florida e superficial, na qual nem mesmo os participantes estão muito seguros do que estão fazendo lá.

Na verdade, a Deusa nos chama proporcionando um sentimento de vazio e de perda, como se tudo aquilo que nos cercasse e todas as coisas nas quais acreditássemos se tornassem, de um momento para o outro, sem nenhum sentido. A Deusa é sábia nas suas ações, do contrário, se não perdêssemos o sentido de importância que damos à nossa vida cotidiana, não teríamos espaço interno para recebê-la. Assim, tudo se torna vazio, pó sobre pó. Para se construir um novo edifício, é preciso demolir o antigo e limpar completamente o terreno.

O perigo que existe no processo de encontro com a Deusa é justamente o desencanto que passamos a ter de tudo o que nos cerca. Se não tivermos alguém mais experiente que nos oriente, podemos entrar em colapso. Sinceramente não creio em afirmações de que o Chamado da Deusa aconteceu de outra maneira, porque é sempre da maior escuridão da madrugada que nascem os primeiros raios de luz da manhã. 

Fonte: Wicca Gardneriana - Mario Martinez - Editora Gaia.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Os Ciganos e a boa sorte. Lendas Ciganas.


"Só entendemos o ‘milagre da vida’ quando deixamos o inesperado acontecer. 
Todos os dias, Deus nos dá, junto com o sol, um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixou ‘infelizes’. Todos os dias tentamos fingir que não percebemos aquele momento, que esse momento não existe, que hoje é igual a ontem e será igual a amanhã. Mas quem presta atenção no seu dia, descobre o ‘momento mágico’ - ele pode estar escondido em qualquer lugar."


OS CIGANOS E A BOA SORTE

Para os ciganos, encontrar no chão um anel, pulseira, uma correntinha ou outra joia é um símbolo de boa sorte, pois afirmam que tudo o que você mentalizar naquele momento ocorrerá e você terá muito sucesso.

Essa tradição vem de quando viajavam em caravanas; quando alguém via algo brilhante no chão, paravam a sua marcha, amarravam esse objeto com uma fita ou corda na pata dianteira direita do cavalo e não o tiravam até que chegassem ao seu destino. Uma vez lá, esse objeto era usado como talismã, pois emanava uma energia muito positiva. Depois o entregavam ao cigano que achassem mais conveniente leva-lo consigo. 

Hoje em dia, para manter o costume, ao encontrar uma joia, a deixam por um tempo em um lugar sem tocá-la, ao que parece, para descarregar seus males, ficando depois totalmente liberada do negativo, para ser usada como signo benéfico.

As ferraduras também são um símbolo de boa sorte para os ciganos; tomavam parte da vida de todos os povos que se deslocavam. Não ter ferraduras, perdê-las ou não mantê-las em perfeito estado, era sinônimo de desgraças; por isso, quando se gastavam ou se quebravam, automaticamente as atiravam nas estradas; de igual maneira quando encontravam ferraduras, tinham que joga-las para trás, sem olhar, entendendo que assim a vida lhes daria a melhor sorte. Este costume está associado à ideia de que a ferradura perdida está estreitamente vinculada ao passado, porque a ele representa; portanto, o mais conveniente para obter um maravilhoso futuro é poder libertar-se dos fardos do passado.

Por outro lado, receber uma ferradura de presente é um presente inestimável; nesse caso funcionará como um talismã protetor, colocada próximo à porta de entrada da casa, com a abertura voltada para cima, irá neutralizar todas as vibrações negativas do local, bem como das pessoas que nelas entram.

O metal é muito importante para este povo; os utensílios metálicos de cozinha (especialmente tachos e panelas) só devem ser lavados quando estritamente necessário; para eles, bastava mergulhá-los em água e passá-los pelo fogo, para eliminar todos os males. Um pote que quebrasse, rachasse ou tivesse furos tinha que ser destruído, descartado, porque representava a chegada de uma época de má sorte.

Os utensílios de cozinha (concha, escumadeira, etc.) eram pendurados na vertical para que absorvessem a energia positiva da terra, de significado vital para os ciganos.



Os ciganos consideram a boa sorte uma bênção de Deus. É dado a uma pessoa ao nascer. Sorte de quem sabe trabalhar e consegue cuidar de si mesmo. É por isso que muitas pessoas consideram a fabricação de amuletos um “negócio impuro”. No entanto, os talismãs acompanham os ciganos por toda a vida.

Em diferentes países, talismãs e amuletos trouxeram renda adicional para os ciganos adivinhos.             A principal procura era por aqueles que prometiam boa sorte no amor.

Esses símbolos e representações gráficas canalizam forças cósmicas protetoras e purificadoras (amuletos), ou funcionam como uma espécie de sintonizador e amplificador de forças e fluidos positivos que captamos e emitimos. Tais imagens tem o poder de captar ondas invisíveis no ar e transformá-las em som. Porém, para isso, é preciso uma certa organização, e isso os amuletos e talismãs exigem.

Amuletos e talismãs representam uma conexão com a cultura cigana e um canal para a manifestação de seus desejos e intenções.

Nas próprias comunidades ciganas, onde sucesso significa em grande parte bem-estar material, amuletos completamente diferentes eram usados ​​para proteger os entes queridos e atrair boa sorte.

Muitos ciganos usam amuletos e talismãs como amuletos de boa sorte.

Na tradição cigana, um amuleto é um item da natureza que é carregado de poder mágico, seja natural ou artificialmente (por meio de rituais). Um amuleto típico seria uma pedra perfurada ou uma pata de coelho.

Talismãs, por outro lado, são objetos feitos pelo homem e dotados de poder mágico pelo feiticeiro cigano. Um talismã típico seria um pedaço de pergaminho ou uma moeda com símbolos específicos, ou palavras de poder, inscritos.

Amuletos e talismãs são geralmente carregados pela cigana em uma bolsa de tecido ou couro, conhecida como "putsi" ou "parik-til". Você pode ver uma cigana usando um putsi pendurado em um cordão ao redor do pescoço. Para quem não é cigano, isso parece apenas um acessório para sua vestimenta colorida, mas, na verdade, provavelmente contém amuletos, talismãs e outros itens mágicos.

Não adianta comprar ou encontrar um amuleto só para guardá-lo e esquecê-lo. Ele deve ser mantido por perto, na bolsa ou no bolso, ou usado no pescoço, e deve ser manuseado com frequência, sempre com um sentimento de felicidade e esperança.

Quanto maior a certeza de que o talismã trará boa sorte ou o amuleto protegerá, mais eficaz ele será. Se você olhar para o seu talismã ou amuleto com ceticismo, pensando:  "Como isso pode me trazer sorte? Eu nunca tenho sorte"  , então, é claro que não vai funcionar – como pode? A energia logo se apagará.


Os ciganos temem o mau-olhado. Mulheres grávidas e crianças são especialmente protegidas contra ela. Os sintomas do mau-olhado incluem: náuseas e bocejos, choro inexplicável.

Uma criança vítima de mau olhado é salva por água encantada na qual nove brasas foram jogadas. Ela é banhada com essa água, que é despejada nas dobradiças da porta. Para proteção, alfinetes são presos nas roupas das crianças. Os ciganos Kalderash amarram uma fita vermelha no pulso de uma criança.


Os Kalderash também têm o costume de pendurar um amuleto chamado 'Bayero' ou 'Laibora' no pescoço das crianças, especialmente meninos. Creem que isso traz boa sorte e força, protege contra doenças e bruxaria. É uma espécie de patuá, um saquinho de linho quadrado costurado. Dentro são colocadas ervas especialmente selecionadas e outros componentes aos quais os ciganos atribuem propriedades mágicas: asas de morcego, grãos de incenso, casca de uma árvore atingida por um raio. Búzios (cauris) protegem a criança de doenças de ouvido, contas - do mau-olhado e doenças oculares. Um pedaço de ferro, por exemplo, uma lasca de armadura em um amuleto, torna seu dono invulnerável. Outra crença liga o ferro desse patuá à lenda do prego destinado ao peito de Cristo, que foi roubado e escondido por um(a) cigano(a) durante a crucificação.


O ouro deve ser adicionado ao amuleto. Pode ser uma joia que pertenceu a um ancestral ou uma cruzinha. De acordo com as crenças ciganas, o ouro tem propriedades de limpeza e cura. É usado na medicina popular e em práticas mágicas. Pó de ouro dissolvido em água é usado para fraturas, problemas estomacais e para fortalecer o corpo. Nas famílias onde as crianças morriam com frequência, um brinco de ouro era colocado na criança para proteção. Além de amuletos para crianças, alguns grupos ciganos tinham "saquinhos de felicidade" - patuás lindamente decorados.

Muitas crianças ciganas usam amuletos como proteção contra o mal. Um objeto de proteção comum é a concha de cauri (búzio). Em geral, o cauri é associado à genitália feminina. Qualquer coisa associada à procriação, ao amor e ao prazer é usada como uma medida de proteção contra o mal, uma vez que este último está “associado à esterilidade, à destruição, à negação e à dor de vários tipos.

Os ciganos consideram muita sorte encontrar a pele trocada de uma cobra. Os ciganos russos faziam um talismã com pele de cobra. Depois de matar ou encontrar uma cobra morta, eles cuidadosamente removiam sua pele. A pele seca era carregada no putsi ou no cabelo para trazer dinheiro. Uma condição obrigatória é que a pele esteja intacta, caso contrário não funcionará.

Entre outros grupos, matar répteis, cobras, sapos e lagartos é desencorajado ou estritamente proibido. Alguns acreditam que as cobras são descendentes de pessoas enfeitiçadas, portanto não podem ser mortas. Matar a primeira cobra que você encontra na primavera provoca uma grande desgraça. 


"Cigano" é um termo coletivo para vários grupos étnicos. Os ciganos se autodenominam Roma (ênfase na última sílaba). Muito provavelmente, essa é a influência da vida dos ciganos em Bizâncio, que passou a ser chamada de Bizâncio somente após sua queda. Antes disso, era considerada parte da civilização romana. O termo comum "Romale" é o caso vocativo do etnônimo "Roma". 

Na Idade Média, os ciganos na Europa eram considerados egípcios. A palavra Gitanes é derivada do egípcio. Havia dois Egitos na Idade Média: o Superior e o Inferior. Os ciganos eram assim chamados, obviamente, pelo nome do alto, que ficava na região do Peloponeso, de onde migraram, porém, o pertencimento aos cultos do baixo Egito é visível até mesmo na vida dos ciganos modernos.

As cartas de tarô, consideradas o último fragmento sobrevivente do culto ao deus egípcio Thoth, foram trazidas para a Europa pelos ciganos. Não foi à toa que eles foram chamados de “tribo do Faraó”. O que também surpreendeu os europeus foi que os ciganos embalsamavam seus mortos e os enterravam em criptas, onde colocavam tudo o que era necessário para a vida após a morte. Essas tradições funerárias ainda estão vivas entre os ciganos hoje.

É sabido que os ancestrais dos ciganos deixaram a Índia. Acredita-se que esta era uma tribo hindu de intocáveis ​​(sujos), ou seja, a casta mais baixa de pessoas. De acordo com pesquisas científicas, o primeiro grupo era composto por aproximadamente 1000 pessoas. Este evento ocorreu no final do primeiro milênio d.C. Por muito tempo eles se estabeleceram na Pérsia (atual Irã) e depois de 400 anos alguns ciganos migraram para o território de Bizâncio (a maior parte do território agora pertence à Turquia). Este ramo de ciganos recebeu o nome de Romá (Romani, Romale). Mais tarde, eles se espalharam gradualmente por todo o território da Europa Oriental e Ocidental, bem como pela Ásia Central. Nos estados da Ásia Central eles são chamados de Lyuli. Portanto, os Roma e os Lyuli são ramos relacionados dos Ciganos.

Outrora, todos os ciganos viviam em um acampamento, um grupo que vagava e vivia juntos. Os ciganos consistem em um grande número de grupos étnicos. Às vezes, esses grupos diferem muito uns dos outros em aparência e comportamento. Mas ainda assim, eles têm mais em comum. Em um acampamento, há um líder cigano (Barô) e uma lei cigana.

A lei cigana pode ser dividida em três partes: regras que regem o comportamento dentro da comunidade cigana, regras que regem o comportamento fora da comunidade cigana e regras comuns ao comportamento dentro e fora da comunidade cigana. Os valores mais importantes para um cigano são: pertencer à comunidade cigana, família, profissão e fé.

O castigo mais terrível para um cigano é a privação do direito de pertencer à comunidade cigana. Essa punição é aplicada em casos de crimes particularmente graves, como assassinato, estupro, roubo em determinadas circunstâncias e outros motivos. A expulsão é acompanhada de "profanação". É muito difícil se reintegrar à sociedade depois de ser exilado.


 Há outro fator unificador entre os ciganos: a língua. Mais precisamente, três línguas: Romani (ou romanês), Domari e Lomavren. Todos os três estão relacionados entre si. É por isso que, mais ou menos, diferentes grupos de ciganos se entendem.

   Como regra geral, outros ciganos só o considerarão cigano se você seguir a lei cigana. Ou seja, ser cigano não significa apenas nascer (ou ser adotado) em uma família cigana, mas também observar certas regras todos os dias. Então é um estilo de vida único e difícil. Os ciganos se unem em acampamentos nômades, cujos membros não são necessariamente relacionados por sangue. Os acampamentos consistem em 5 a 10 ou 20 a 25 tendas, e cada família pode se separar do acampamento a qualquer momento. O trabalho deve ser coletivo, o dinheiro ganho deve ser dividido entre todos os membros do acampamento, incluindo os que estão incapacitados. O tribunal (Kris) lida com a resolução de conflitos e questões contenciosas. É composto principalmente por ciganos idosos que escolhem um líder entre eles. A decisão de ser é executada sem questionamentos. Também no acampamento, os homens desfrutam de autoridade inquestionável. As crianças podem ser prometidas em casamento ainda na infância.

Anteriormente, as ocupações mais comuns para os homens eram o comércio de cavalos e para as mulheres – a adivinhação, bem como encantamentos e magias. As crianças geralmente pedem esmolas e furtam nas horas vagas, algo que entre os ciganos geralmente não é considerado vergonhoso. Diferentes grupos de ciganos têm diferentes ofícios predominantes, como ferraria, escultura em madeira, fabricação de joias, etc. O trabalho dos homens geralmente é sazonal, e a renda diária do acampamento é trazida principalmente pelas mulheres. Os ciganos são famosos como músicos, dançarinos e cantores.

Antigamente, quase todos os ciganos eram adivinhos. A adivinhação cigana é muito valorizada, pois há lendas sobre sua veracidade. Cartomantes experientes são especialmente reverenciados, pois conseguem contar com precisão todos os eventos do passado e do futuro. Os métodos de adivinhação usados ​​pelos ciganos são variados: leitura de mão, com cartas, com facas, feijões, agulhas e muito mais. Existe uma hipótese de que os povos nômades aprenderam a arte da clarividência em Bizâncio. E logo, graças às constantes mudanças, a famosa adivinhação cigana se espalhou rapidamente pelo mundo. 

Sabe-se que as ciganas adivinhas em Bizâncio iam de casa em casa oferecendo seus serviços, enquanto os homens ciganos encantavam cobras em apresentações nas praças. Logo após a apresentação, as ciganas se dirigiram à plateia: "Vejo que vocês nasceram sob uma boa estrela! Posso lhes dizer o seu destino!"

Não está claro como exatamente a adivinhação acontecia. Os ciganos não desenhavam mapas astrais, mas o início era sempre sobre uma estrela — os bizantinos acreditavam muito em astrologia. Talvez os ciganos olhassem para as linhas da mão e afirmassem que era ali que as estrelas deixavam as letras do destino.

Começando com a migração dos ciganos de Bizâncio após a invasão turca, surgiu na Europa uma lenda de que as práticas de adivinhação dos ciganos vêm da antiga cultura do Egito. Essa lenda se reflete nas obras de muitos esoteristas, que afirmavam que os ciganos eram os portadores de um antigo conhecimento sagrado expresso nas cartas de tarô. Outra hipótese científica, analisando a rota migratória dos ciganos, fala da possível adoção de práticas de adivinhação vindas da Grécia, onde era muito difundida e havia um grande número de ensinamentos e seitas. Esta hipótese é confirmada por fontes bizantinas, que falam do ofício de adivinhação dos ciganos como uma de suas principais ocupações. Talvez os ciganos tenham aprendido a capacidade de prever o destino ainda mais cedo, já que há grupos de ciganos que não chegaram a Bizâncio e permaneceram na Ásia Central, cujos métodos de adivinhação são semelhantes aos dos ciganos europeus.

Outra forma muito popular de adivinhação é espalhar feijões ou favas de uma determinada maneira. É praticado há muito tempo pelos ciganos na Turquia, nos países dos Balcãs e na Grã-Bretanha. Os feijões formam padrões complexos que o adivinho deve interpretar. Ninguém sabe se os sinais para tal leitura da sorte são os mesmos entre os ciganos turcos, sérvios e ingleses, porque eles guardam seus segredos de forma sagrada.

No livro “Magia e feitiçaria dos ciganos”, Raymond Buckland descreve esse tipo de leitura da sorte:

"Os ciganos eslavos usam feijões para adivinhar o futuro. O consulente é solicitado a entregar uma moeda, e o adivinho a segura nas mãos junto com os feijões. Ele então se concentra na pergunta, sacode os feijões com a moeda, abre as mãos e joga o conteúdo na mesa ou no chão. A moeda representa o consulente, e os feijões e sua disposição representam as circunstâncias da vida do consulente. Nove feijões são usados ​​para adivinhação. A área diretamente à frente da cartomante significa o presente, mais distante, o futuro. Dois, três ou mais feijões lado a lado significam forças poderosas. Feijões formando uma linha reta significam uma estrada; uma linha curva é algum tipo de obstáculo ou atraso. Feijões formando um triângulo significam uma mulher, e quatro feijões dispostos em um quadrado ou retângulo são interpretados como um homem".

A leitura da sorte com pedras é feita de maneira semelhante. É preciso desenhar um círculo com um diâmetro de aproximadamente 50 centímetros no chão ou recortá-lo em papel e traçar uma linha vertical passando pelo seu centro. Duas linhas são desenhadas horizontalmente, dividindo o círculo em três partes. Se você observar essas linhas horizontais, o segmento mais próximo de você representa o presente, o segundo representa o futuro próximo e o terceiro representa o futuro distante. Desta forma, você pode saber em que momento certos eventos ocorrerão. O segmento imediato, ou seja, o “presente”, é o período de hoje a seis meses. A seção central cobre um período de dois a cinco anos. E os segmentos distantes correspondem ao que acontece em cinco anos.

A linha principal, que corre verticalmente, simboliza o consulente (ou seja, você, se estiver lendo a sorte para si mesmo). Quanto mais perto as pedras caem dessa linha, mais problemas o aguardam.

Nesta leitura da sorte, usa-se nove pedrinhas. Se a sorte estiver sendo lida para outra pessoa, peça-lhe uma moeda, como no método descrito acima.

Em qualquer caso, o campo para leitura da sorte provavelmente será um círculo, por exemplo, uma placa de cobre ou um círculo desenhado na areia. Às vezes um lenço estendido.

Ela simbolizará o consulente, e não haverá necessidade de prestar atenção à linha vertical. Se você estiver lendo sua classificação, a linha vertical simboliza você. Depois de jogar as pedrinhas, observe os padrões que elas formam e combine os padrões citados acima. 


Adivinhação com pêndulo

Esta é uma prática comum de shuvani (bruxa cigana). Elas geralmente usam um anel, tirado do dedo, ou um pingente de um colar. O pingente, é claro, deve ficar pendurado na corrente. Um fio de seda vermelho ou verde é amarrado ao anel, que é baixado no copo para que ele fique pendurado automaticamente, segurado por você. Depois disso, uma pergunta é feita em voz alta, e o peso deve dar uma resposta batendo na borda do copo. Uma batida significa sim, duas batidas significam não. É possível determinar antecipadamente ou até mesmo palavras inteiras dessa maneira, usando uma batida para A, duas para B, três para C, e etc. Mas esse é um exercício muito longo, e é melhor limitar-se a uma resposta sim/não. Se você estiver lendo para uma determinada pessoa, você precisa pegar o anel ou pingente dessa pessoa.


As ciganas também previam o futuro de seus consulentes olhando para uma bola de cristal límpido em um suporte. Antigamente acreditava-se que, para adivinhação, seria melhor se a bola não fosse tão transparente, mas com as ranhuras às vezes características do cristal.

As ciganas do Leste Europeu usam as cartas de baralho comum. A adivinhação pode ser semelhante a jogar paciência ou tirar cartas uma por uma ou três por três de um baralho, com uma interpretação sequencial das combinações resultantes. Por exemplo, em algumas leituras da sorte, o seis de espadas com o rei de copas significa separação de um ente querido. Tradicionalmente, a carta mais sinistra é considerada, aliás, não o ás de espadas, mas a rainha de espadas.

Muitas ciganas na Europa Ocidental usam cartas de Tarô para prever o futuro. Segundo a lenda, foi com os ciganos que o lendário leitor de tarô Papus estudou, alterando ligeiramente as cartas originais com base em suas ideias sobre como a magia funciona. Assim, no Baralho Cigano (Petit Lenormand), as cartas não estavam de forma alguma relacionadas com a numerologia e a astrologia.

Embora hoje em dia as pessoas usem borra de café para ler a sorte em muitos países ao redor do mundo, esse método se originou com os ciganos da Turquia e da Armênia. É como com os feijões: você observa o formato que o pó de café forma. Só que antes disso o próprio consulente deve tomar o café, para, por assim dizer, “carregar” o pó para o seu destino.

Uma forma bastante rara de adivinhação é quebrando pratos acidentalmente. Mas nunca se ganhou dinheiro com esse tipo de adivinhação; existia entre os ciganos da Europa Oriental para uso familiar, por assim dizer. Assim como seus vizinhos eslavos, os ciganos acreditavam que uma xícara ou prato quebrado acidentalmente poderia ser um sinal de mudanças felizes ou infelizes, então eles tentavam adivinhar se deveriam esperar golpes ou presentes do destino.

Para ler a sorte com água, você precisa de uma vela e (opcionalmente) um pedaço de papel. Eles escrevem uma pergunta em um pedaço de papel, queimam-no na chama de uma vela e jogam as cinzas na água. A resposta é interpretada pela forma como as cinzas caem na superfície da água. 

Com uma vela, eles leem a sorte não sobre uma questão específica, mas sobre o futuro próximo, pingando cera derretida ou estearina na água, gota a gota, trinta e três vezes. As gotas são coletadas em figuras; Precisamos entender como são seus contornos: é isso que supostamente entrará na vida em breve.


Os ciganos têm um tabu: eles não leem a sorte para si mesmos, uns dos outros, ou para seus entes queridos. Do ponto de vista da filosofia e dos valores dos ciganos, vale a pena confiar no seu destino, confiar nele e viver um dia de cada vez.

O conhecimento do futuro, segundo os ciganos, fará com que a pessoa se preocupe, tente mudar a imagem do futuro que não lhe convém ou se adapte a previsões favoráveis. Além disso, aqueles próximos a você, aqueles que previram a imagem do futuro, também estarão preocupados com o destino de um ente querido, tentando intervir.

Tudo isso impedirá que você viva um dia de cada vez, acredite na sua estrela e seja feliz. É por isso que eles leem a sorte dos estranhos, deixando isso para a sua própria consciência, mas preferem não prever o destino dos “seus”. é uma oportunidade de ganhar dinheiro. O outro motivo é porque a adivinhação é uma oportunidade de ganhar dinheiro, algo que é sempre um pouco enganosa. "Se você não trapacear, não venderá".




Para o cigano, o lenço (diklô) representa um elemento de proteção, por isso são comumente vistos com o lenço na cabeça; para conservar suas boas ideias, sonhos e projetos. O lenço também lhes evoca a representação do quadrado mágico, símbolo de grande poder. Quando as caravanas paravam ou se reuniam para descansar, formavam sempre um quadrado, e no centro deste acendiam uma fogueira, em torno da qual se expressava a vida; ali acontecia a verdadeira magia. O lenço também é usado em rituais para prevenir a infidelidade, quando percebem que alguém está rondando procurando seduzir seu parceiro. Neste ritual, o coração e a sexualidade do rival em potencial são fechados para que ele deixe a pessoa em paz.

É também um elemento ligado à virgindade, noutros tempos a noiva era submetida, antes do casamento, a um teste que consistia na verificação da sua virgindade. Para isso, envolviam algum objeto no lenço e as mulheres que tinham maior confiabilidade e reconhecimento no ambiente se encarregavam de introduzi-lo na vagina da noiva, a fim de corroborar quando saísse, o aparecimento de sangue, que representava a ruptura do hímen. Ainda hoje, algumas comunidades utilizam um rito semelhante nas cerimônias conjugais; só que não esperam mais garantir a virgindade; então a mãe insere o lenço com o dedo dentro dos órgãos genitais da filha e, ao retirá-lo, a noiva o agita com total alegria; que também celebra o noivo como símbolo da pureza da mulher com quem unirá sua vida.

Uma lenda cigana diz que Deus amou tanto os ciganos por sua alegria e talento que não os prendeu a pedaços de terra, como outros povos, mas lhes deu o mundo inteiro para viver. É por isso que os ciganos podem ser encontrados em todos os continentes, exceto na Antártida.

O povo cigano passou a maior parte da vida viajando, e a única forma que tinham para se orientarem à noite foi guiando-se pelas estrelas. Embora para quase todo mundo seja sinônimo de prosperidade e excelente presságio ver uma estrela cadente, para os ciganos, que reivindicam o privilégio de serem os autores desta lenda, é ainda mais. Quando um cigano se emociona ao observar o céu e intui a fugacidade daquela luz, ele se sente protegido porque se afasta da escuridão, dos espíritos negativos e das trevas. A partir desta forte convicção, anéis ou colares com estrelas são dados como presentes, e em alguns casos, com as iniciais do nome de quem os usará gravadas neles. Certeza que eles carregam na hora de escolher os lenços que vão usar na cabeça, os retalhos com que confeccionam suas saias e a sedução de brilhos, cores e formas com que costumam deslumbrar nosso olhar.

Os dedos das mãos, embora para alguns grupos ciganos signifiquem uma coisa, para outros têm um significado completamente diferente. Para os ciganos, os dedos das mãos têm personalidade própria e por isso devem ser estudados.

Na quiromancia, o polegar é o dedo mestre e o ângulo formado entre ele e o indicador indica a independência da pessoa. O dedo indicador é o dedo da decisão, o dedo médio simboliza a vocação de lutar contra o destino. O dedo anular mostra os estados do coração, tanto físicos quanto mentais. O dedo mínimo é usado para tocar objetos pelos quais não se deseja pagar nada, mas se isso não for mais permitido, simboliza a fantasia.

Os ciganos utilizam outros métodos de adivinhação para reforçar suas predições, entre estes métodos estão:

Cartas de Tarot ou Petit Lenormand, chumbo derretido, borra de café, conchas, pedras, moedas, dados, dominó, agulhas, ossos de galinha, punhais, entre outros.

Na Hungria, as ciganas costumam adivinhar com tambores sobre cuja pele estão desenhados três círculos pretos e três brancos. Sobre o tambor são colocadas favas ou feijões e se adivinha dependendo da posição em que as sementes ficaram.  


LENDAS CIGANAS

  • Numa época muito remota, os ciganos foram acolhidos na Caldéia, vindos do leste da Índia, pela sua experiência no trabalho com metais, especialmente bronze e ouro.

Na terra dos magos, se iniciaram no profundo conhecimento dos astros, suas leis e influência nas vidas humanas. Munidos deste conhecimento claramente valioso, decidiram seguir o patriarca Abraão na sua peregrinação à terra de Canaã.

Seguindo as vicissitudes da história indiana, chegaram ao Egito na época de José, aquele que sonhava, onde apresentaram sua arte e sabedoria aos poderosos faraós.
Quando Moisés conduziu o povo escolhido através do Mar Vermelho, um rapaz e uma moça ciganos escaparam tanto da ira do Faraó como do afogamento e se tornaram o Adão e a Eva dos ciganos.


  • Os ciganos, como toda a raça humana, descendem do pai Adão... mas não de Eva.
A primeira mãe dos ciganos foi outra mulher que precedeu a tentadora Eva. Portanto, e com toda a lógica, os ciganos estão isentos do pecado original e não são obrigados a trabalhar nem a ganhar o pão com o suor do rosto.


  • Os ciganos Kalderash, de Lyon, contam que seu ancestral, um ferreiro, fizera 12 pregos para crucificar a três homens.
Ciente de que três (3) é o número da bênção, escondeu um dos pregos, com a ideia de que o homem que fosse crucificado com 3 pregos, em vez de 4, seria o homem da bênção.
Isto permitiu ao ferreiro cigano descobrir o SUNTO DEL, ou seja, o Deus Santo, segui-lo e entrar no paraíso na melhor das companhias.


A resposta à pergunta de por que os ciganos são nômades, por que não têm terras próprias, encontramos na seguinte lenda:

Quando Deus dividiu (demarcou) a Terra, esqueceu-se dos ciganos. E um cigano foi até Deus com lágrimas nos olhos e disse: "Por que o Senhor me tratou assim? Você deu terras para todos, mas não para mim?” Então Deus disse a isso: “ Eu lhe darei uma mente, para que você possa viver por sua mente, com astúcia. E para que você possa ganhar seu pão com isso. E o mundo inteiro estará aos seus pés. E você ganhará seu pão com sua mente e astúcia, você sobreviverá onde quer que vá .”


Presságios Ciganos


Uma pessoa vive em um mundo em mudança, interagindo constantemente com ele. Todo evento significativo é precedido por episódios menores. Os ciganos conhecem muitos sinais e presságios, cuja precisão foi comprovada ao longo dos séculos. Você não deve evitar todos os gatos pretos, mas será útil para cada um de nós entender e descobrir como usar certos sinais do destino em seu próprio benefício ou para minimizar possíveis eventos desagradáveis.



A cor do amor

Entre os signos ciganos, encontrar uma ou outra coisa ou objeto vermelho prevê sucesso certo no amor. A coisa vermelha que você encontrar, seja um botão, um pedaço de linha ou qualquer outra coisa, deve ser pega e carregada com você para sua própria sorte. A partir de agora, essa coisinha se tornará seu amuleto do amor. Só não se esqueça de lembrar do seu ente querido e, curvando-se para receber essa coisinha, diga o seguinte:

"Vermelho é a cor do sangue,
Vermelho é o coração no peito. 
Que haja sorte e felicidade no amor
comigo por séculos ."


A chave para o coração de um ente querido

Um achado aleatório na forma de uma chave também prevê boa sorte. Não importa o tamanho ou formato da chave encontrada. Mas especialmente favoráveis ​​são as descobertas de chaves antigas. Semelhante à situação em que você encontra coisas vermelhas, abaixando-se para pegar a chave, você precisa dizer o seguinte:

"A chave do seu coração está no chão,
Agora esta chave me pertence,
Tranque seu amor em meu coração com a chave.
A protegerá para sempre, o poder do meu amor."

E não deixe de lembrar do seu ente querido, pense em como você gostaria de estar sempre com ele. 
A chave encontrada deve ser deixada debaixo do travesseiro em que você dorme por 9 noites. 
Durante o dia, a chave deve ser carregada com você. Após 9 dias, a chave deve ser escondida com segurança.


Dias desfavoráveis ​​do ano

Os ciganos também têm recomendações de dias desfavoráveis ​​para o amor durante o ano. Esses dias são extremamente indesejáveis ​​para o casamento ou para que um casal se conheça; porém, esses dias também não são o momento de resolver as coisas, dizendo o que seu ente querido deve ou não fazer. Esses dias são os seguintes:

Em janeiro - 1, 2, 6, 14 e 27.
Em fevereiro - 1, 17 e 19.
Em março - 11 e 26.
Em abril - 10, 27 e 28.
Em maio - 11 e 12.
Em junho - dia 19 do mês.
Em julho - dias 18 e 21.
Em agosto - 2, 26 e 27.
Em setembro - dias 10 e 18.
Em outubro - dia 6.
Em novembro - dias 6 e 17.
Em dezembro - 5, 14 e 23.














segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A interferência física e espiritual na Água

A água é um condutor de energias e quando misturada a outros elementos traz resultados incríveis para limpeza de cargas que possam estar no lugar. A água é instável e muda rapidamente. Por isso, capta as intenções que estão à volta. Em pontos comerciais pode trazer grande benefício, pois nesses locais há muita rotatividade de pessoas, deixando-os muitas vezes com sensação de densidade no ar.

Um pesquisador japonês, Masaru Emoto, tinha a teoria de que as moléculas da água se modificavam a partir de estímulos externos, absorvendo e reagindo às vibrações do ambiente. Para demonstrá-la, congelou amostras, nas quais, afirma, é possível identificar diferentes formatos de cristais de água. 

Em outra experiência, Emoto quis verificar se a água era capaz de "ouvir" música. Para isso, colocou amostras do líquido destilado (mais livre de impurezas) entre duas caixas de som, que tocaram canções em volume ambiente. A equipe deixou a substância descansar por dois dias, em um pote com tampa, antes de congelá-la. O resultado foi a formação de diferentes estruturas conforme o tipo de música ao qual a água foi submetida. A água pode memorizar informações. A consciência humana pode mudar as estruturas das moléculas de água, que são o design da substância. Se pensarmos que a água é o princípio de todas as coisas, podemos dizer que a consciência humana cria tudo.

O pesquisador apresentou os resultados de um terceiro experimento, no qual as amostras de água passaram por um método mais sutil de exposição: frascos com água com etiquetas coladas contendo escritas palavras e expressões de bondade, como gratidão, amor e paz, formaram cristais harmônicos. Resultado diferente do verificado em recipientes com expressões grosseiras.

No entanto, foi questionada a influência das palavras coladas nos frascos com água: a menos que alguém leia a palavra, a interprete e emita pensamentos ou sentimentos bons ou ruins, não é possível que um conjunto de papel e tinta seja capaz de determinar qualidades na amostra. 


Duas possibilidades onde a água serve como filtro energético e indicativo de energia emocional do lugar.

Se sua casa é próxima de locais com energias pesadas, como delegacias, hospitais, cemitérios, é aconselhável que obtenha um bom filtro energético.


1) Como filtro energético:

O sal é um cristal. E é justamente essa característica que o torna ideal para limpezas energéticas: Ele absorve a umidade e as energias densas do ambiente. 

Misturado com água, em um copo colocado em um ambiente, ele puxa a energia densa do local para a água. Quando há desequilíbrio energético no local, o sal começa a transbordar, subir pela parede do copo, indicando o quanto o lugar está denso, contaminado e que sua ação de limpeza está agindo (muitas vezes ocorre no mesmo dia). Nesse caso, troque a água e lave a borda do copo, não precisando descartar o sal e sim só completar. Deixe o filtro intacto por sete dias. É recomendado que seja feito pelo menos uma vez ao mês.

E se deixarmos assim? A energia “suja” contida no copo d’água retorna para o ambiente.

É sempre bom colocar esse filtro energético em toda casa, para indicar qual parte dela está em maior desequilíbrio. Banheiros geralmente são os locais mais negativos.

Filtro Energético: Meio copo de água e meio copo de sal grosso. O ideal é que você ponha um copo em cada cômodo da sua casa pois assim detectará de onde vem as vibrações de desequilíbrio, fazendo uma defumação naquele local.


Filtro energético (ideal para quem recebe muitas visitas)

Um copo, um punhado de sal grosso e um pedacinho de carvão.

Deixe o sal grosso até a metade do copo e adicione água até ultrapassar o composto. Depois, coloque o carvão em cima. Por último, é só colocá-lo atrás da porta de entrada sempre que receber amigos, familiares ou prestadores de serviço, que mesmo sem querer, podem levar consigo energias densas.

Quando o sal começar a “ferver” ou transbordar para fora do copo, ou o carvão afundar, descarte os elementos. Estes são os dois sinais de que o filtro absorveu todas as energias negativas do ambiente. Descarte o carvão no lixo e o sal em água corrente. O copo pode ser reutilizado, basta lavá-lo. 

Depois que as visitas forem embora, e se você sentir a necessidade, faça uma limpeza na casa, seja com defumação ou a limpeza no piso com amoníaco (retira as memórias) e cânfora (retira os miasmas). Antes de passar essa solução no piso todo, teste em um pequeno pedaço, para ter certeza que não irá manchar o piso.


2) Indicativo da energia emocional do lugar

O segundo filtro é feito com água pura e também pode ser colocado em um copo d’água em cada ambiente. A água dentro do copo fica cheia de bolhas, como se fosse água com gás, quando a energia emocional da casa se encontra conturbada. Talvez haja ali presença de brigas e ou discussões, tristezas, mágoas ou mesmo memórias ou formas-pensamento de um lugar que já teve desequilíbrio energético no passado, pois tudo fica registrado no ambiente. Entidades em sofrimento ou mesmo mal intencionadas também podem se fazer presentes e interferir na vida de quem mora no lugar, inclusive em sua saúde física, financeira e espiritual. Caso a água apresente bolhas, o ambiente precisa de uma limpeza energética, onde muitas práticas poderão ser feitas como a defumação e a leitura diária dos salmos 7 (para que nos sejam mostrados inimigos ocultos físicos e espirituais) e 30 (retirada de energias densas), principalmente se antes de sua leitura você os oferecer a Deus agradecendo que Sua Luz seja presente em seu lar.

Outro ponto importante é fazer uma limpeza energética das roupas e móveis que você possui, especialmente se foram doados ou comprados em brechós, antiquários. Limpeza com anil e cânfora vai ajudar a eliminar as memórias e miasmas do local e dos móveis.

sábado, 23 de novembro de 2024

Espiritualidade Cigana


"Eles se movem como o sol e a lua. São nômades. Ou, antes, são como as ondas, estão em toda a parte. Chegam e partem rápido. Parecem o vento. Num momento estão aqui, no outro, sumiram. Numa lufada, deixam traços indeléveis de sua passagem no eco de sua música, no relinchar de seus cavalos, no sorriso alegre de suas mulheres. Não, não são o vento, são os filhos do vento!" 

 (Poema persa, 200 a 400 anos a.C. Autor anônimo)


Todo cigano venera um deus (Del/ Devel/ Baro Devel) e crê na entidade do mal (Beng). No entanto, mantém que antes de Del, O Deus (masculino) existir, já existia a Terra (phu), o universo. Ela é a Divina Mãe (De Develeski) de todos os ciganos. Nisto reconhece-se um traço do matriarcado primitivo. Por outro lado, o termo "Kar", que originalmente designa o órgão sexual masculino, é estendido a tudo que cria alguma coisa.

Mas o cigano não está preso a uma religião, mas sim a uma espiritualidade. Embora, para fins práticos, tenham adotado as religiões daqueles com quem entraram em contato, a religião formal é frequentemente complementada pela fé no sobrenatural, em presságios e maldições. Esse conjunto de superstições varia entre os diferentes grupos ciganos, mas, em certa medida, é um fator presente na vida de todos eles.

Os ciganos acreditam em seus poderes, como exemplificado pelo uso de maldições (amria), e rituais de cura. Eles praticam a adivinhação apenas para o benefício dos gadje e como fonte de sustento, mas não entre si. 

Tradicionalmente, ao longo da história, o povo cigano tem sido associado à adivinhação (quiromancia, leitura de folhas de chá, cartomancia, bola de cristal, entre outros). As mulheres ciganas, desde que conhecemos algo da história cigana, têm sido adivinhas. Elas praticavam adivinhação na França e na Alemanha já em 1414, e nunca abandonaram a prática. 

Há duas palavras usadas pelos ciganos para adivinhação: dukkering, que é a modificação de uma palavra valaco-esclavônica que significa algo espiritual ou fantasmagórico. E bocht, que é uma palavra persa que significa ou está conectada ao sânscrito "bagya", que significa destino. Para o cigano do Leste Europeu, o Espírito Santo é chamado Swentuno Ducos.

Na Europa Ocidental, a adivinhação geralmente é feita por leitura de mãos, enquanto na Europa Oriental, grãos de café são frequentemente jogados para formar um padrão. A adivinhação foi uma das ocupações mencionadas nos primeiros relatos dos Roma — por exemplo, em 1422 na Bélgica e no mesmo ano na Itália. O primeiro registro de quiromancia na Inglaterra é de 1530. A arte provavelmente se originou na Índia.

A cigana adivinha é chamada Drabardi,  menos cuidadosa em relação a um bruxo Rom (Chovihano), chamado Drabarno. 

Amuletos, amuletos e talismãs de boa sorte são comuns entre os ciganos. Eles são usados ​​para prevenir infortúnios ou curar doenças. A curandeira que prescreve essas curas ou medidas preventivas tradicionais é chamada de drabarni ou drabengi. Alguns ciganos carregam pão nos bolsos como proteção contra a má sorte (bibaxt), e espíritos (mullos). Ferraduras são consideradas sinal de boa sorte (baxt) por alguns ciganos, assim como por outros.

Como os ciganos acreditam que a doença é uma condição não natural, chamada prikaza , existem muitas maneiras sobrenaturais pelas quais eles acreditam que a doença pode ser prevenida ou curada. Um dos vários métodos para baixar a febre é sacudir uma árvore jovem. Dessa forma, a febre é transferida do corpo da pessoa doente para a árvore. Várias ervas (Drab, "medicina") são usadas para a prevenção ou cura de várias doenças. A fitoterapia pode ser praticada por ambos os sexos. Algumas dessas ervas, chamadas sastarimaskodrabaró, na verdade têm valor medicinal, além de suas qualidades sobrenaturais.

 
Zoltan Sztojka, cartomante cigano húngaro


O conceito de adivinhação contém vários elementos independentes que são erroneamente agrupados. Um elemento é a previsão do futuro, chamada drabaripé ou drabarimós. Outro elemento está relacionado aos poderes de cura, que os ciganos praticam entre si. Os elementos de cura da adivinhação são chamados de "aconselhamento". Ambos os elementos são baseados na crença no sobrenatural.

São ligados à magia, usam velas e incensos, leem a mão, cartas de baralho, e adivinham o futuro na borra de café (cafeomancia), com pedrinhas e grãos, bola de cristal, patacas (moedas) e até com dominó e dados (cleromancia). Para os ciganos, tudo na vida é "maktub" (destino, 'está escrito'), por isso são atentos observadores do céu e verdadeiros adoradores dos astros. 

As crenças dos ciganos variam de país para país e de tribo para tribo, mas muitas crenças são comuns aos ciganos em todos os lugares, variando apenas no grau em que são observadas ou praticadas. Os ciganos sempre impuseram uma separação cultural e social da sociedade gadjé para manter a força social e cultural. Eles não querem fazer parte de sociedades que envolvam o comprometimento de suas crenças básicas.

São muito supersticiosos - o sangue alheio não se deve nem olhar, nem tocar; os homens ciganos não relacionam-se sexualmente com suas mulheres quando estas estão menstruadas. Temem e combatem, com cerimônias, os vampiros (dhampir) e mullôs (almas penadas). Acreditam que os espíritos daqueles que foram maltratados ou descuidados antes de morrer voltam em forma de vampiros para molestar aos vivos. 

Quando um cigano morre, todo o acampamento se reúne para prestar as últimas homenagens ao falecido e também para ajudar com os preparativos do funeral. Os ciganos acreditam que a alma vive no corpo de uma pessoa somente até sua morte. Depois disso, ela vaga pela Terra por 40 dias e depois vai para a "terra dos mortos". Portanto, ela precisava receber tudo o que era necessário para viver em outro mundo. É claro que, no passado, quando os ciganos eram nômades, eles enterravam os mortos onde a morte os alcançava - no cemitério da aldeia mais próxima ou até mesmo na floresta. Após o início da vida sedentária, os ciganos tiveram a oportunidade de se reunir regularmente nos túmulos de seus ancestrais.

Os ciganos não descuidam de vários presságios e lendas. Por exemplo, existe a crença de que após o pôr do sol, vários espíritos caminham pela terra, e jogar lixo fora à noite é imprudente, pois há o risco de atingir algum espírito que, ofendido, pode tirar sua sorte.

Olhando para a lua nova, você pode virar uma moeda no bolso e então parar de olhar para o corpo celeste: você pode esperar dinheiro em breve.

Durante o casamento, a noiva segura uma moeda de prata na mão esquerda, que ela deixa cair, como se por acidente, no final da cerimônia. É assim que ela compra seu casamento do mau-olhado do Diabo.

Acredita-se que o nascimento de uma criança ocorre na presença de forças boas e más e, portanto, é costume que os ciganos acendam uma grande fogueira na entrada da tenda com o bebê para espantar os maus espíritos de seu batismo (borrifando água salgada e dando um nome).

A magia é um fenômeno místico universal. É o ato de transformar. Louvam as forças da natureza, a luz da lua, do sol, o fogo, a fumaça e as brasas da fogueira e outras forças etéricas, que estão sempre prontas a ajudar. Para a magia dar certo, o primeiro ingrediente é a fé. Toda magia tem que ter uma forte razão para ser feita; manipulada com amor e carinho, o pedido será aceito.

Os ciganos adotam a religião do país que os acolhe. Assim, no Brasil temos ciganos católicos, evangélicos, umbandistas, protestantes, etc. No Brasil, cultuam Nossa Senhora Aparecida pela semelhança física com Santa Sara Kali, e por ambas terem saído das águas. 


Alguns dizem que ela era uma escrava que serviu à família de Cristo; outros dizem que ela era sua filha, concebida por Maria Madalena em segredo. Outras lendas a ligam a Kali, a deusa hindu de pele escura. Inclusive todos os anos, no final de maio, milhares de ciganos peregrinam à cidade costeira de Saintes-Maries-de-la-Mer — as Santas Marias do Mar —  no sul da França, onde fica seu santuário e onde o rio Ródano encontra o Mar Mediterrâneo, para venerar Sara em um ritual que lembra o culto a Kali, deusa-mãe hindu. 

Na Europa pré-humanista, os cristãos perseguiam os ciganos como "adoradores do diabo" devido às suas crenças religiosas. Os ciganos não criaram Sara Kali, mas, na sua luta para se assimilarem e se encaixarem na dogmática sociedade cristã católica europeia, associaram a sua deusa-mãe à figura obscura de Santa Sara. Para os ciganos, Sara Kali passou a personificar a resiliência. Com o tempo, as suas origens como deusa hindu foram ocultadas. Até o nome Sara é encontrado em relação a deusas-mãe como Durga e Kali na escritura hindu Durgasaptashati, do século III.

Sara Kali teria sido uma das primeiras ciganas a receber a revelação. Nobre de nascimento, era a chefe de sua tribo nas margens do Ródano. Conhecia os segredos que lhe foram transmitidos de geração em geração. Os ciganos daquela época praticavam a idolatria e, uma vez por ano, carregavam nos ombros a estátua da deusa Ishtar (Astarte) e entravam com ela no mar para receber uma bênção. Mas um dia Sara tivera uma visão que lhe mostrou a chegada dos santos que estiveram presentes na morte de Jesus, e que ela deveria ajudá-los - Maria Jacobina (irmã da Virgem Maria), Maria Salomé (mãe dos apóstolos Tiago e João), Maria Madalena, Marta, Lázaro e Maxíminio. Sara os viu chegando num barco. O mar ficou furioso e o barco ameaçou afundar. Sara jogou o vestido nas ondas e, usando-o como jangada, ajudou-as a chegar à terra.

Além disso, os ciganos ainda praticam o Shaktismo - a adoração de um deus através de um consorte - neste caso, a deusa Kali, sincretizada como Sara Kali, e o deus Shiva.                                                    Quando adoram o Deus cristão, os ciganos o fazem através da Virgem Maria ou de Santa Ana (a qual chamam Cigana Velha).

Santa Sara é venerada juntamente com as Santas do Mar, as Marias, de quem fora companheira e serva. Também é mencionada nos evangelhos apócrifos, num texto escrito entre os séculos I e II, como uma entre as santas mulheres que foram ao túmulo do Senhor no Dia da Ressurreição. Dir-se-á que Santa Sara está entre as mulheres perfumadas. A tradição também guarda o fato dela ser egípcia, o que de alguma forma explicaria porque é hoje venerada como a santa dos ciganos - se tivermos em conta a teoria segundo a qual a palavra "gypsy" é uma deformação da palavra Egito. Assim eram chamados os primeiros ciganos quando chegaram à França no século XV.

Depois de Santa Sara, São Zeferino é o segundo santo mais importante para a espiritualidade cigana, beatificado em 4 de março de 1997 pelo Papa João Paulo II. Outro santo importante é Durdevan, uma interpretação cigana de São Jorge na Bulgária, Rússia e Macedônia. Na Croácia e na Eslovênia chama-se Jurjevo.

Há também Tia Bibi ou Matusa Bibi, uma santa não canonizada, celebrada como curandeira e protetora da família, mas acima de tudo guardiã da saúde das crianças. É um feriado religioso dos ciganos ortodoxos da Sérvia e Montenegro, bem como de todo o mundo, conhecido como Bibijako Djive. Geralmente é ligado ao feriado da Páscoa.   

A palavra sérvia "Slava" significa “celebração”. É uma tradição cristã-ortodoxa dos sérvios, um ritual para glorificar o santo padroeiro de uma família. Este padroeiro especial também é comemorado no Dia de Todos os Santos. Trata-se de um evento social relacionado ao patriarca da casa. Por ocasião deste dia, todos são bem-vindos e convidados. O santo da família é herdado do patriarca, de pai para filho, enquanto as mulheres adotam os padroeiros dos maridos.

No folclore cigano, as "Mulheres Brancas", também conhecidas como Ursitori, são um grupo de três fadas ou espíritos femininos do destino. Uma delas é boa, a segunda é imparcial e a terceira tenta prejudicar as pessoas. A rainha delas é Matuya, que usa pássaros gigantes chamados charana.

Elas decidem o destino de uma criança no terceiro dia após o nascimento. Nesse dia, a mãe ou uma pessoa mais velha ou da família prepara um pão semelhante a uma hóstia e coloca três pedaços e três taças de vinho ao redor da criança, em intenção às três fadas que a visitarão, para designar a sua sorte e sussurrar o nome verdadeiro da criança. Este nome será mantido em segredo pelos pais e pela criança até se tornar adulta, porque em muitas culturas o nome representa poder. Esse pão e vinho será repartido no dia seguinte com todos as pessoas presentes, principalmente com as crianças.

Por fim, há o deus Zurvan, surgido há 3.000 anos na religião da antiga Pérsia, onde foi o primeiro princípio, o primeiro deus, o Criador. Dele surgiram dois gêmeos antagônicos - Ahura Mazda, o bom, e Angra Mainyu, o mau. Zurvan era o deus do tempo e do espaço infinitos, o Uno, o Único, um deus transcendente, sem distinção entre o bem e o mal. Os ciganos assumiram esse deus na forma de "Noroc", o deus da Sorte. Este deus era conhecido no período medieval porque muitos sacerdotes proibiam o seu uso, bem como o desejo de “boa sorte!” usado como uma saudação. 



LIBERDADE


"Ser cigano é nunca temer a liberdade do risco de viver".


"A liberdade é o bem mais precioso que possuímos. Não se aprisionem em dores passadas, em relações que drenam a sua luz, ou em medos que paralisam seus passos. A vida é movimento, é dança, e cada um de nós carrega dentro de si a chama da transformação. Não tenham medo de mudar, de seguir novos caminhos, pois a estrada sempre se revela àqueles que têm coragem de caminhar com o coração aberto. Lembrem-se: só quem se liberta pode realmente voar". (Cigana Carmencita)


Uma característica marcante do povo cigano é a liberdade, em relação às nacionalidades, aos padrões sociais e aos preconceitos que escravizam. Os ciganos são poeticamente denominados “Filhos do Vento”, por sua liberdade, fluida mobilidade e errância, sempre ao sabor do vento, percorrendo os quatro cantos do mundo em sua mágica trajetória. Profundos conhecedores dos caminhos, em sua saga milenar vêm recolhendo conhecimentos iniciáticos de todas as culturas e tradições.

Outra característica marcante é o seu conhecimento magístico e curandeiro, principalmente nos campos da saúde e do amor. É lendária a vidência de seus magos e sacerdotisas, que utilizam o elemento espelho para refletir o Tempo, a memória ancestral, os conhecimentos, a arte da cura e dom da vidência. Por meio das cartas ou outros suportes materiais como bolas de cristal, estrelas do mar e simples copos de água, o futuro, o presente e o passado desdobram-se no vórtex temporal de suas visões.

Regidos pelo Tempo e pelo espaço, o povo cigano se move livremente, tanto no espaço como no tempo.

Na tradição cigana, o ser humano é constituído de três partes: um corpo que apodrece, um espírito que permanece e um corpo intermediário, que liga um ao outro. Acreditam que o corpo humano é considerado puro da cintura para cima e impuro da cintura para baixo. É por isso que a parte da cintura para baixo deve estar permanentemente coberta, tanto para mulheres como para homens. Portanto as mulheres usam saias longas e os homens calças compridas, sendo os joelhos e os pés considerados as partes mais indecentes do corpo humano.

Os ciganos trabalham muito com as cores, que para eles tem um significado especial, cada uma tem o seu valor próprio. Eles primam sempre pelas cores mais vivas e que emanam maior vibração. Os ciganos não simpatizam com a cor preta e usam-na o mínimo possível, salvo se for de fundo ou que não ocupe lugar de grande destaque. Cada espírito cigano pode ter uma cor de vibração com a qual trabalhe mais. Essas cores são representadas nas velas, roupas e outros elementos utilizados durante os trabalhos magísticos.


ÉS LIVRE (Khalil Gibran)


És livre na luz do sol

e livre ante a estrela da noite.

E és livre quando não há sol,

nem lua, nem estrelas.

Inclusive és livre quando fecha os olhos

a tudo que existe.

Porém és escravo de quem amas,

pelo fato mesmo de amá-lo.

E és escravo de quem te ama,

pelo fato mesmo de deixar-te amar.


O OLHAR CIGANO

"Ver é transpor as barreiras da carne". (Hatiss, o cigano)

O que impressiona em primeiro lugar num cigano, é o seu olhar. Nem vestuário, nem a língua e os costumes denunciam melhor o cigano do que seus olhos. É impossível descrevê-los, pois não são grandes nem pequenos, mas tem mistério! É uma estranha expressão, que para entender deve ser vista. Um olhar sempre fugidio, mas apesar disso se fixa num certo instante. Um olhar cheio de paixão, mas de uma paixão contida, retida entre as pálpebras, que deixam passar um magnetismo que só o cigano possui. A estrela de cinco pontas representa o poder magnetizador do olhar e os cinco sentidos.

Os ciganos têm usos e costumes peculiares: Se nômades, usam roupas estampadas, dentes claros e alguns dourados, tranças nos cabelos. Os ciganos geralmente deixam o cabelo crescer, evitam cortes de cabelo muito curtos.  Cabelo curto entre os ciganos é um símbolo de desonra, exclusividade dos ciganos que eram exilados e isolados.  

 Têm moral especial sobre virgindade, amor aos filhos, respeito aos velhos, danças celebrando a vida, leitura de sorte, etc. Se sedentários ou seminômades, trajam-se como gadjé, os não-ciganos. Tais detalhes variam, enfatizados ou minimizados por certos autores. Entretanto, há um ponto em comum: o poder do olhar cigano. Qual seja um olhar de que não se esquece facilmente, um olhar que escrutina nossa alma, que desvenda nossos mais secretos pensamentos.

Segundo Eugene Pittard, encontram-se entre os ciganos, com freqüência, homens muito escorreitos e mulheres muito belas. A sua tez ligeiramente trigueira, o cabelo de azeviche, o nariz direito e bem formado, os dentes brancos, os olhos castanhos muito abertos, de expressão ora viva, ora lânguida, a elegância em geral da sua postura e a harmonia dos seus movimentos colocam-nos bem acima de muitos povos europeus no que se refere à beleza física.

Quanto ao olhar dos ciganos, era tido mais do que um elemento de sua aparência física; era como tendo uma dimensão transcendental. Numa sociedade que transmitia seus saberes, tradicionalmente, por forma oral, o olhar é o ponto de partida para a compreensão entre as pessoas. Além disso, era através dele que se confirmava um compromisso (negócios ou casamento, por exemplo) depois da palavra dada, olhando-se nos olhos do cliente ou do outro cigano.

Os ciganos foram, não se sabe a partir de quando, considerados como portadores de um olhar mágico e poderoso, capaz de despertar paixões e lançar maldições. Este olhar se caracterizaria, não só pelo exotismo dos olhos com grandes pupilas, mas também por uma certa magia na forma de fixá-los. No século XIX, tal imagem ganhou mais relevância graças ao movimento romântico.

Na obra Tradições ocultas dos ciganos (página 27), Pierre Derlon cita:

... a faculdade do “olhar” pode servir a finalidades defensivas ou mesmo agressivas; entretanto, é freqüentemente utilizado pelos feiticeiros (kakus) para apaziguar ou incutir confiança no próximo.

Só um Kaku (tio feiticeiro) pode ver a aura do outro. Tal como os hindus, os ciganos acreditam nos poderes latentes nos olhos, no terceiro olho (entre as sobrancelhas). 

Cristina da Costa Pereira, em seu livro Povo Cigano, à página 92, diz:

O olhar para o cigano é fundamental em suas mais diversas relações com as pessoas: amor, negócios, práticas místicas, etc. Eles consideram que o olhar nos olhos é a melhor maneira de se conhecer a pessoa com quem se está falando. Eles costumam dizer que a leitura do olhar é “conhecimento intuitivo que todos ciganos têm” [...]


A LUA

No plano psíquico a Lua representa nosso inconsciente, nossas emoções.

Cada uma de suas fases influencia de forma sutil nossa sensibilidade, nossa disposição, e portanto, nossas atividades.

Lua Nova

É o momento de germinação, da busca de novos caminhos. Ficamos mais introspectivos e indecisos. Não é um bom momento para tomarmos decisões. É a época de deixarmos amadurecer nossos propósitos e ideais.

Lua Crescente

Nossas ideias e emoções tornam-se, pouco a pouco, mais claras. Ficamos mais objetivos. É o momento de colocarmos em prática o que planejamos. Tornamo-nos mais sociáveis.

Lua Cheia

Simboliza a plenitude. Ficamos mais receptivos. Nosso inconsciente aflora mais facilmente. Tudo que planejamos chega ao seu nível máximo de potencialidade.

Lua Minguante

Este é o período de avaliação daquilo que foi feito. É o momento de terminar tudo que foi iniciado nos ciclos anteriores. Ficamos extremamente sensíveis.

Para o povo cigano, a lua cheia é o maior elo de ligação com o sagrado. Sendo grandes observadores do céu, reverenciam a lua cheia como madrinha. Realizam mensalmente festivais de consagração, de imantação de objetos, reverenciam sua força dançando em torno de fogueiras acesas. A Lua dá energização de paz e amor.

Através da dança, a cigana entra em transe e, como se transportada, "viaja" na força da claridade da lua, recebendo toda energia e forças espirituais que faz com que sua intuição aguce cada vez mais. Quando volta a colocar os pés na terra, sente que está preparada para mais uma jornada em sua vida. Com os cabelos soltos e pés descalços, recolhe em seu oráculo, onde reserva um espaço muito especial.

Sobre uma mesa com uma toalha bordada ou um xale, é colocado um castiçal, conchas, figa, punhal, moedas de ouro para atrair riqueza e incenso para purificar e afastar os maus espíritos. Nas cartas, a cigana adivinha e fala de amor, trabalho, dinheiro, filhos e situações familiares. Em sua bola de cristal, está a energia e a lembrança da luz da lua, formando assim, essa mistura mágica que lhe dá a vidência e sabedoria para decifrar o destino de seus consulentes. 



(Na foto, casamento cigano: os noivos tendo as mãos cortadas e amarradas juntas para se unirem pelo sangue)

Magia de fortalecimento de sentimentos de casal:

" Pela força da fogueira, pela força da panela de ferro com brasas, pela magia, pela maior das energizações que é a da lua cheia, pedimos a união e a paz para esse casal."


Os ciganos têm capacidade de emitir energia na direção exata, no objetivo certo, e de empregar técnicas de respiração, como na Ioga. Têm controle de percepção mental, tentando adivinhar o que o outro está pensando. Domam animais ferozes sem usar métodos violentos de condicionamento, utilizando a voz e os olhos. 

O elemento Fogo é muito significativo na cultura cigana; representa o início e o fim da existência do homem. Por limpar e transmutar as energias negativas, é usado em todo ritual de magia sob forma de vela, carvão queimando, pira ou fogueira. Suas chamas são ideais para concentração, viagens astrais, meditações e o desenvolvimento da intuição.

Também os passes magnéticos, arte dos curandeiros, dos magnetizadores. Tensões, enxaquecas, irritabilidade e histerias podem ser aliviados com alguns passes. O magnetizador opera com as mãos na forma de garras, tendo em cada dedo um elemento representando: sol, selo de Salomão (estrela de 6 pontas), Vênus (estrela de 5 pontas), lua (cheia, minguante e crescente), equivalente planetário simbólico: 

Polegar: representa o sol; Indicador: lua crescente.  Médio: lua cheia. Anular: lua minguante. Mínimo: planeta Vênus. 

São inúmeros os espíritos ciganos que alcançaram lugar de destaque no plano espiritual, dentre os mais conhecidos podemos citar:

Cigana Carmen - É protetora dos que sofrem de mal de amor, acolhe e consola os abandonados. Espanhola, viajou por quase todos os países de idioma hispânico e inspirou vários amores. É linda, vaidosa, grande dançarina de flamenco. Amorosa e determinada.

Cigana Carmencita - Espírito extrovertido, alegre, brincalhão. Fala alto, ri muito, é extremamente vaidosa. Faz magia utilizando-se de frutas, flores, verduras, ervas e água. Gosta que tenha incenso de jasmim ou rosas, quando vem à Terra. Bebe tequila e fuma cigarro com filtro amarelo. É muito pedichona, e um tanto interesseira, sempre que faz alguma coisa para alguém, pergunta o que vai ganhar em troca. É muito procurada, pois raramente não obtém êxito com suas magias. 

Cigana Madalena - De origem árabe, viajou por todo Oriente Médio e Índia. Foi muito reprimida, e tem grande amor e paciência para orientar os que dela precisam. Suas magias são de fundamentos árabes e indianos. Cigana linda, adora dançar e se soltar, encantando à todos.

Cigano Wladimir - Este cigano é "do mundo". Protetor do trabalho, consola e ajuda à todos. Cigano imperioso e trabalhador, gosta das coisas boas da vida, que depois do trabalho seriam: mulher, música e comida. Responsável, falante e guerreiro, os que não tem medo de lutar podem ir até ele.

Cigano Manolo - De origem italiana, viajou pela Ásia e Turquia, entre outros lugares; as comidas árabes são as suas favoritas. Detém a magia das palavras, gosta de cores fortes, usa bolero, camisas de seda. "Agarra" numa conversa como ninguém, e dá aos seus protegidos o dom da oratória. Manolo aconselha com justiça e força. Apesar de exigente, é carinhoso, uma sábia companhia. 


Ciganos e Espiritualidade: As Tradições Místicas do Povo Roma


O povo Roma, frequentemente chamado de cigano, há muito é associado a um estilo de vida místico, que combina costumes ancestrais, práticas espirituais e uma profunda conexão com o mundo natural e o invisível.


Um Espírito Nômade: Conexão com a Natureza e a Liberdade


Um dos principais elementos espirituais da cultura cigana é sua conexão com a Terra e a liberdade de um estilo de vida nômade. Vivendo tradicionalmente próximos à natureza, os ciganos desenvolveram uma compreensão intuitiva dos ritmos da Terra, dos ciclos da lua e dos poderes dos elementos. Essa proximidade com a natureza forma a base de muitas de suas práticas espirituais, que se baseiam na sabedoria telúrica, honrando o sol, a lua, as estrelas e as mudanças sazonais.


O conceito de liberdade é central para a espiritualidade cigana — liberdade de restrições materiais, de locais fixos e de normas sociais rígidas. Essa abertura permite fluidez na expressão espiritual, onde as práticas podem se adaptar e evoluir com o ambiente.



AS CIGANAS E DRABARIMÔS

Por que as ciganas praticam Drabarimós (adivinhar com o objetivo de obter alguma compensação em dinheiro ou itens)

Um dia, O Del (Deus para os ciganos) advertiu todos os ciganos a deixarem seu país, pois Ele iria punir o rei dos Gadje (os não-ciganos) e seu povo. Os anciãos ciganos estavam preocupados, porque não tinham nada para a viagem. Então, O Del disse: "Vocês irão conseguir o que precisam para a viagem se enviarem suas esposas para pedir dinheiro, comida e roupas às mulheres Gadje, porque eu atordoarei suas mentes e elas não negarão às sua esposas tudo o que pedirem. Então vocês conseguirão deles o que precisam para pagar sua peregrinação ao redor do mundo". 

Este é um mandamento que os ciganos guardam desde a Antiguidade, pois ainda não terminaram sua jornada...


Adivinhação: A Arte de Adivinhar a Fortuna


Talvez a prática espiritual mais conhecida associada à cultura cigana seja a adivinhação (Drabarimos, que se traduz como medicina espiritual). Durante séculos, as mulheres ciganas foram reverenciadas por sua habilidade em adivinhação, utilizando ferramentas como cartas de tarô, bolas de cristal, quiromancia e leitura de folhas de chá (tasseografia). Essas práticas não são meramente ferramentas de entretenimento, mas são consideradas maneiras de acessar reinos invisíveis, oferecendo orientação e insights sobre o futuro. 

Cartomancia: Embora a cartomancia seja praticada por muitas tradições espirituais hoje em dia, ela está historicamente ligado às mulheres ciganas, que eram frequentemente vistas como sábias ou videntes. O Tarô e o baralho Petit Lenormand são usados para responder a perguntas, obter clareza e oferecer orientação espiritual com base nos significados simbólicos das cartas.

-Quiromancia: Acredita-se que o povo cigano tenha transmitido a antiga arte da leitura de mãos ou quiromancia. Os quiromantes acreditam que as linhas e formas das mãos refletem o caráter e o destino de uma pessoa, oferecendo um vislumbre do passado, presente e futuro.


Contemplação com Bola de Cristal: Conhecida como vidência, a vidente cigana costuma usar uma bola de cristal para acessar mensagens do mundo espiritual ou para obter conhecimento oculto divino. A bola atua como uma ferramenta de foco, permitindo que o vidente entre em estado meditativo e receba visões ou mensagens intuitivas.


Essas formas de adivinhação estão profundamente ligadas à espiritualidade cigana, enfatizando a crença no destino, na sorte e na importância da intuição.


Magia e Rituais


O povo Rom também está associado a diversas formas de magia e rituais populares, frequentemente centrados em proteção, cura e bênçãos. Essas práticas são transmitidas de geração em geração e estão imbuídas de símbolos, cânticos e elementos naturais. 



Crenças Espirituais e Ancestrais


A espiritualidade cigana frequentemente enfatiza a importância dos ancestrais e a crença em espíritos que continuam a existir após a morte. Honrar os espíritos de entes queridos falecidos é um aspecto central de sua prática espiritual, e é comum que os ciganos busquem orientação ou proteção de seus ancestrais.


Culto aos Ancestrais: O povo cigano tem profunda reverência por aqueles que se foram, acreditando que seus espíritos permanecem presentes e influentes na vida dos vivos. Os rituais para homenagear os mortos podem incluir acender velas, oferecer comida ou fazer peregrinações a locais sagrados ligados aos seus ancestrais.


Comunicação Espiritual: Semelhante a outras tradições místicas, as práticas espirituais ciganas frequentemente envolvem a comunicação com o mundo espiritual. Isso pode ocorrer por meio de médiuns ou durante rituais específicos destinados a buscar orientação de almas que partiram.


O papel das mulheres na espiritualidade cigana


Na cultura cigana, as mulheres ocupam um lugar especial na vida espiritual. As chovihani, ou mulheres sábias, são frequentemente as guardiãs do conhecimento espiritual, responsáveis ​​pela cura, adivinhação e proteção da família por meios mágicos. Essas mulheres são vistas como líderes espirituais, frequentemente conduzindo rituais e servindo como intermediárias entre o mundo material e o reino espiritual.


Festivais e celebrações espirituais ciganas


Na cultura cigana, celebrações e festivais são imbuídos de significado espiritual. Muitos desses eventos giram em torno dos ciclos da natureza, como a mudança das estações, as fases da lua e a colheita. Santa Sara (Sara Kali), padroeira do povo cigano, é especialmente venerada durante os festivais.


Peregrinação a Santa Sara: Um dos eventos espirituais mais significativos é a peregrinação anual ao santuário de Santa Sara em Saintes-Maries-de-la-Mer, França. Esta peregrinação é um momento de reflexão espiritual, orações e celebração da identidade e cultura cigana.


Celebrações da Lua Cheia: O povo cigano costuma realizar cerimônias espirituais durante a lua cheia, um momento considerado ideal para manifestar intenções, aprimorar habilidades psíquicas e se conectar com a energia feminina divina.

O povo Cigano nos lembra da profunda conexão entre a natureza, a intuição e o mundo espiritual, oferecendo insights atemporais sobre os mistérios da vida, da morte e das forças invisíveis que nos guiam. Por meio de sua sabedoria espiritual, somos convidados a acolher nossos próprios dons intuitivos, conectar-nos com as energias da Terra e honrar a magia da vida cotidiana.