Todo cigano venera um deus (Diel/ Devla/ Devel) e crê na entidade do mal (Beng). No entanto, mantém que antes de Del, O (masculino) Deus existir, já existia a Terra (phu), o universo. Ela é a Divina Mãe (De Develeski) de todos os ciganos. Nisto reconhece-se um traço do matriarcado primitivo.
Mas o cigano não está preso a uma religião, mas sim a uma espiritualidade. São ligados à magia, usam velas e incensos, cerimônias contra vampiros (dhampir), mullôs (almas penadas), leem a mão, cartas de baralho, e adivinham o futuro na borra de café (cafeomancia), com pedrinhas e grãos, bola de cristal, patacas (moedas) e até com dominó e dados (cleromancia). Para os ciganos, tudo na vida é "maktub" (está escrito nas estrelas), por isso são atentos observadores do céu e verdadeiros adoradores dos astros.
A magia é um fenômeno místico universal. É o ato de transformar. Louvam as forças da natureza, a luz da lua, do sol, o fogo, a fumaça e as brasas da fogueira e outras forças etéricas, que estão sempre prontas a ajudar. Para a magia dar certo, o primeiro ingrediente é a fé. Toda magia tem que ter uma forte razão para ser feita; manipulada com amor e carinho, o pedido será aceito.
Os ciganos adotam a religião do país que os acolhe. Assim, no Brasil temos ciganos católicos, evangélicos, umbandistas, protestantes, etc. No Brasil, cultuam Nossa Senhora Aparecida pela semelhança física com Santa Sara Kali, e por ambas terem saído das águas.
Sara Kali teria sido uma das primeiras ciganas a receber a revelação. Nobre de nascimento, era a chefe de sua tribo nas margens do Ródano. Conhecia os segredos que lhe foram transmitidos de geração em geração. Os ciganos daquela época praticavam a idolatria e, uma vez por ano, carregavam nos ombros a estátua da deusa Ishtari (Astarte) e entravam com ela no mar para receber uma bênção. Mas um dia Sara teve uma visão que lhe mostrou que os santos que estiveram presentes na morte de Jesus Cristo viriam e que ela deveria ajudá-los. Sara os viu chegando num barco. O mar ficou furioso e o barco ameaçou afundar. Sara jogou o vestido nas ondas e, usando-o como jangada, ajudou-as a chegar à terra.
Além disso, os ciganos ainda praticam o Shaktismo, ou seja, a adoração de um deus através de um consorte, um casal. Quando adoram o Deus cristão, os ciganos rezam-lhe através da Virgem Maria ou de Santa Ana (a qual chamam Cigana Velha).
Santa Sara é venerada juntamente com os Santos do Mar, de quem foi companheira e serva. Também é mencionada nos evangelhos apócrifos, num texto escrito entre os séculos I e II, como uma entre as santas mulheres que foram ao túmulo do Senhor no Dia da Ressurreição. Dir-se-á que Santa Sara está entre as mulheres perfumadas. A tradição também guarda o fato dela ser egípcia, sendo a companheira negra dos dois mares, o que de alguma forma explicaria porque é hoje venerada como a santa dos ciganos - se tivermos em conta a teoria segundo a qual a palavra "gypsy" é uma deformação da palavra Egito. Assim eram chamados os primeiros ciganos quando chegaram à França no século XV.
Depois de Santa Sara, São Zeferino é o segundo santo mais importante para a espiritualidade cigana. Beatificado em 4 de março de 1997 pelo Papa João Paulo II, ele é o primeiro santo cigano criado a honrar os altares. Outro santo importante é Durdevan, uma interpretação cigana de São Jorge na Bulgária, Rússia e Macedônia. Na Croácia e na Eslovênia chama-se Jurjevo.
Há também Tia Bibi ou Matusa Bibi, uma santa não canonizada, celebrada como curandeira e protetora da família, mas acima de tudo guardiã da saúde das crianças. É um feriado religioso dos ciganos ortodoxos da Sérvia e Montenegro, bem como de todo o mundo, conhecido como Bibijako Djive. Geralmente é ligado ao feriado da Páscoa.
A palavra Slava vem do sérvio e significa “celebração”. É uma tradição cristã-ortodoxa dos sérvios, um ritual para glorificar o santo padroeiro de uma família. Este padroeiro especial também é comemorado no Dia de Todos os Santos. Trata-se de um evento social relacionado ao patriarca da casa. Por ocasião deste dia, todos são bem-vindos e convidados. O santo da família é herdado do patriarca, chefe da casa, de pai para filho, enquanto as mulheres adotam os padroeiros dos maridos.
No folclore cigano, as "mulheres brancas", também conhecidas como Ursitori, são um grupo de três fadas ou espíritos femininos do destino. Uma delas é boa, a segunda é imparcial e a terceira tenta prejudicar as pessoas. A rainha delas é Matuya, que usa pássaros gigantes chamados charana.
Elas decidem o destino de uma criança no terceiro dia após o nascimento. Nesse dia, a mãe ou uma pessoa mais velha ou da família prepara um pão semelhante a uma hóstia e coloca três pedaços e três taças de vinho ao redor da criança, em intenção às três fadas que a visitarão, para designar a sua sorte e sussurrar o nome verdadeiro da criança. Este nome será mantido em segredo pelos pais e pela criança até se tornar adulta, porque em muitas culturas o nome representa poder. Esse pão e vinho será repartido no dia seguinte com todos as pessoas presentes, principalmente com as crianças.
Por fim, há O deus Zurvan, surgido há 3.000 anos na religião da antiga Pérsia, onde foi o primeiro princípio, o primeiro deus, o criador. Dele surgiram dois gêmeos antagônicos - Ahura Mazda, o bom, e Angra Mainyu, o mau. Zurvan era o deus do tempo e do espaço infinitos, o Uno, o Único, um deus transcendente, sem distinção entre o bem e o mal. Os ciganos assumiram esse deus na forma de "Noroc", o deus da sorte. Este deus era conhecido no período medieval porque muitos sacerdotes proibiam o seu uso, bem como o desejo de “boa sorte!” usado como uma saudação.
LIBERDADE
"A liberdade é o bem mais precioso que possuímos. Não se aprisionem em dores passadas, em relações que drenam a sua luz, ou em medos que paralisam seus passos. A vida é movimento, é dança, e cada um de nós carrega dentro de si a chama da transformação. Não tenham medo de mudar, de seguir novos caminhos, pois a estrada sempre se revela àqueles que têm coragem de caminhar com o coração aberto. Lembrem-se: só quem se liberta pode realmente voar". (Cigana Carmencita)
Uma característica marcante do povo cigano é a liberdade, em relação às nacionalidades, aos padrões sociais e aos preconceitos que escravizam. Os ciganos são poeticamente denominados “Filhos do Vento”, por sua liberdade, fluida mobilidade e errância, sempre ao sabor do vento, percorrendo os quatro cantos do mundo em sua mágica trajetória. Profundos conhecedores dos caminhos, em sua saga milenar vêm recolhendo conhecimentos iniciáticos de todas as culturas e tradições.
Outra característica marcante é o seu conhecimento magístico e curandeiro, principalmente nos campos da saúde e do amor. É lendária a vidência de seus magos e sacerdotisas, que utilizam o elemento espelho para refletir o Tempo, a memória ancestral, os conhecimentos, a arte da cura e dom da vidência. Por meio das cartas ou outros suportes materiais como bolas de cristal, estrelas do mar e simples copos de água, o futuro, o presente e o passado desdobram-se no vórtex temporal de suas visões.
Regidos pelo Tempo e pelo espaço, o povo cigano se move livremente tanto no espaço como no tempo.
Na tradição cigana, o ser humano é constituído de três partes: um corpo que apodrece, um espírito que permanece e um corpo intermediário, que liga um ao outro. Acreditam que o corpo humano é considerado puro da cintura para cima e impuro da cintura para baixo. É por isso que a parte da cintura para baixo deve estar permanentemente coberta, tanto para mulheres como para homens. Portanto as mulheres usam saias longas e os homens calças compridas, sendo os joelhos e os pés considerados as partes mais indecentes do corpo humano.
Só um Kaku (tio feiticeiro) pode ver a aura do outro. Tal como os hindus, os ciganos acreditam nos poderes latentes nos olhos, no 3º olho (entre as sobrancelhas).
ÉS LIVRE (Khalil Gibran)
És livre na luz do sol
e livre ante a estrela da noite.
E és livre quando não há sol,
nem lua, nem estrelas.
Inclusive és livre quando fecha os olhos
a tudo que existe.
Porém és escravo de quem amas,
pelo fato mesmo de amá-lo.
E és escravo de quem te ama,
pelo fato mesmo de deixar-te
amar.
O OLHAR CIGANO
"Ver é transpor as barreiras da carne". (Hatiss, o cigano)
O que impressiona em primeiro lugar num cigano, é o seu olhar. Nem vestuário, nem a língua e os costumes denunciam melhor o cigano do que seus olhos. É impossível descrevê-los, pois não são grandes nem pequenos, mas tem mistério! É uma estranha expressão, que para entender deve ser vista. Um olhar sempre fugidio, mas apesar disso se fixa num certo instante. Um olhar cheio de paixão, mas de uma paixão contida, retida entre as pálpebras, que deixam passar um magnetismo que só o cigano possui. A estrela de cinco pontas representa o poder magnetizador do olhar e os cinco sentidos.
A LUA
No plano psíquico a Lua representa nosso inconsciente, nossas emoções.
Cada uma de suas fases influencia de forma sutil nossa sensibilidade, nossa disposição, e portanto, nossas atividades.
Lua Nova
É o momento de germinação, da busca de novos caminhos. Ficamos mais introspectivos e indecisos. Não é um bom momento para tomarmos decisões. É a época de deixarmos amadurecer nossos propósitos e ideais.
Lua Crescente
Nossas ideias e emoções tornam-se, pouco a pouco, mais claras. Ficamos mais objetivos. É o momento de colocarmos em prática o que planejamos. Tornamo-nos mais sociáveis.
Lua Cheia
Simboliza a plenitude. Ficamos mais receptivos. Nosso inconsciente aflora mais facilmente. Tudo que planejamos chega ao seu nível máximo de potencialidade.
Lua Minguante
Este é o período de avaliação daquilo que foi feito. É o momento de terminar tudo que foi iniciado nos ciclos anteriores. Ficamos extremamente sensíveis.
Para o povo cigano, a lua cheia é o maior elo de ligação com o sagrado. Sendo grandes observadores do céu, reverenciam a lua cheia como madrinha. Realizam mensalmente festivais de consagração, de imantação de objetos, reverenciam sua força dançando em torno de fogueiras acesas. A Lua dá energização de paz e amor.
Através da dança, a cigana entra em transe e, como se transportada, "viaja" na força da claridade da lua, recebendo toda energia e forças espirituais que faz com que sua intuição aguce cada vez mais. Quando volta a colocar os pés na terra, sente que está preparada para mais uma jornada em sua vida. Com os cabelos soltos e pés descalços, recolhe em seu oráculo, onde reserva um espaço muito especial.
Sobre uma mesa com uma toalha bordada ou um xale, é colocado um castiçal, conchas, figa, punhal, moedas de ouro para chamar riqueza e incenso para purificar e afastar os maus espíritos. Nas cartas, a cigana adivinha e fala de amor, trabalho, dinheiro, filhos e situações familiares. Em sua bola de cristal, está a energia e a lembrança da luz da lua, formando assim, essa mistura mágica que lhe dá a vidência e sabedoria para decifrar o destino de seus consulentes.
Magia de fortalecimento de sentimentos de casal:
" Pela força da fogueira, pela força da panela de ferro com brasas, pela magia, pela maior das energizações, que é da lua cheia, pedimos a união e a paz para esse casal."
Os ciganos têm capacidade de emitir energia na direção exata, no objetivo certo, e de empregar técnicas de respiração, como na Ioga. Têm controle de percepção mental, tentando adivinhar o que o outro está pensando. Domam animais ferozes sem usar métodos violentos de condicionamento, utilizando a voz e os olhos.
O elemento Fogo é muito significativo na cultura cigana; representa o início e o fim da existência do homem. Por limpar e transmutar as energias negativas, é usado em todo ritual de magia sob forma de vela, carvão queimando, pira ou fogueira. Suas chamas são ideais para concentração, viagens astrais, meditações e o desenvolvimento da intuição.
Também os passes magnéticos, arte dos curandeiros, dos magnetizadores. Tensões, enxaquecas, irritabilidade e histerias podem ser aliviados com alguns passes. O magnetizador opera com as mãos na forma de garras, tendo em cada dedo um elemento representando: sol, selo de Salomão (estrela de 6 pontas), Vênus (estrela de 5 pontas), lua (cheia, minguante e crescente), equivalente planetário simbólico:
Polegar: representa o sol; Indicador: lua crescente. Médio: lua cheia. Anular: lua minguante. Mínimo: planeta Vênus.
São inúmeros os espíritos ciganos que alcançaram lugar de destaque no plano espiritual, dentre os mais conhecidos podemos citar:
Cigana Carmen - É protetora dos que sofrem de mal de amor, acolhe e consola os abandonados. Espanhola, viajou por quase todos os países de idioma hispânico e inspirou vários amores. É linda, vaidosa, grande dançarina de flamenco. Amorosa e determinada.
Cigana Carmencita - Espírito extrovertido, alegre, brincalhão. Fala alto, ri muito, é extremamente vaidosa. Faz magia utilizando-se de frutas, flores, verduras, ervas e água. Gosta que tenha incenso de jasmim ou rosas, quando vem à Terra. Bebe tequila e fuma cigarro com filtro amarelo. É muito pedichona, e um tanto interesseira, sempre que faz alguma coisa para alguém, pergunta o que vai ganhar em troca. É muito procurada, pois raramente não obtém êxito com suas magias.
Cigana Madalena - De origem árabe, viajou por todo Oriente Médio e Índia. Foi muito reprimida, e tem grande amor e paciência para orientar os que dela precisam. Suas magias são de fundamentos árabes e indianos. Cigana linda, adora dançar e se soltar, encantando à todos.
Cigano Wladimir - Este cigano é "do mundo". Protetor do trabalho, consola e ajuda à todos. Cigano imperioso e trabalhador, gosta das coisas boas da vida, que depois do trabalho seriam: mulher, música e comida. Responsável, falante e guerreiro, os que não tem medo de lutar podem ir até ele.
Cigano Manolo - De origem italiana, viajou pela Ásia e Turquia, entre outros lugares; as comidas árabes são as suas favoritas. Detém a magia das palavras, gosta de cores fortes, usa bolero, camisas de seda. "Agarra" numa conversa como ninguém, e dá aos seus protegidos o dom da oratória. Manolo aconselha com justiça e força. Apesar de exigente, é carinhoso, uma sábia companhia.
CHÁ CIGANO - Fogo, água e samovar de cobre
Os ciganos bebem esta bebida em baldes e samovares, desde cedo, antes do trabalho, em vez do café da manhã, até tarde da noite, quando várias famílias se reúnem sob o mesmo teto. Não importa quem venha até a casa, nos primeiros 15 minutos a mulher deve servir o chá ao convidado em um copo transparente sobre um pires. Nas famílias ricas é servido em taças de cristal, nas famílias pobres - em taças simples facetadas. Eles bebem chá como lanche.
A receita do chá cigano é simples. Coloque as frutas em um copo: maçã (amor); uva (fertilidade em geral); damasco (afrodisíaco); limão (cortar o mal) e morango (felicidade). Despeje folhas de chá preto recém-preparadas em 2 litros de água fervente. Vá amassando com um garfo ou colher, para tirar o sumo, enquanto mentaliza três pedidos: um pedido pessoal, um para uma pessoa querida e um para o bem de todos. As frutas podem ser comidas.
Isto é chá e compota em um copo, além de uma composição magística.