quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Ciganos e o oculto (Magia Cigana) 🔮🎲🍀🦉🌜

Cartas, leituras da palma da mão ou bola de cristal, feitiços e maldições são associados por muitos à comunidade cigana, mantendo crenças e estereótipos sobre sua conexão com o ocultismo. Mesmo que muitos dos rituais e tradições ciganos possam ser considerados envoltos em misticismo, eles têm uma história rica, mas mal interpretada, por trás.

Desde os tempos nômades, os ciganos criaram uma comunhão especial com a natureza e adquiriram um misticismo especial. Foi assim que a magia cigana começou a se desenvolver.

As artes ocultas sempre foram fonte de inspiração para o ser humano, tanto a nível artístico como ficcional e entrelaçadas com a tradição religiosa. Para falar sobre bruxaria cigana, temos que recuar alguns séculos atrás, quando nossos antepassados ​​adoravam os elementos, o sol, a lua e a natureza.

Nosso passado é pagão e muitos dos rituais que ainda realizamos quase por inércia também são pagãos. A bruxaria, hoje associada ao Diabo e às práticas impuras, nem sempre teve a ver com as religiões monoteístas que conhecemos no Ocidente. Houve um tempo em que a divindade era vista como a própria personificação dos mistérios da natureza e o feiticeiro ou bruxa como o intercessor entre ela e o resto dos mortais. Neste grupo de crenças, encontramos a feitiçaria cigana.

O nome dado à bruxa da comunidade já nos dá uma pista sobre a perspectiva a partir da qual este conceito é compreendido. A shuvani ou “mulher sábia” devia seguir quatro preceitos estabelecidos: desejo, concentração, paciência e agir secretamente ao praticar sua “magia”. As propriedades das ervas eram muito apreciadas e eram mulheres com o dom da adivinhação, gostavam muito de ler palmas das mãos e outros tipos de objetos como cartas. Mas o mais interessante talvez seja a associação universal entre bruxaria e Mal, heresia com letras maiúsculas, que nesta tradição cigana representa uma linha tênue, pois por um lado temiam os espíritos e por outro gostavam de fazer maldições, em além de ganhar fama por seus filtros de amor.

No final do século XIV, os nômades ciganos da Ásia se espalharam pela Europa, levando consigo vários rituais mágicos. Na Inglaterra, por muito tempo, eles foram escondidos sob o nome de cristianismo. É bem sabido que os povos primitivos são pobres em conhecimento e ricos em fantasia. Isso tornou fácil para eles imaginarem poderes sobrenaturais.

Com o tempo, a comunidade cigana recebeu uma reputação misteriosa por esse comportamento, vivendo por suas próprias leis e por diferentes princípios de vida das populações com as quais entravam em contato, dificilmente se permitindo ser cristianizados e falando uma língua desconhecida. Sua imagem foi associada a tribos nômades de bruxas e ladrões de cavalos.

Os ciganos escondem os segredos de sua religião de populações estrangeiras, passando-os apenas para a geração mais jovem. Entre os interessados ​​no ocultismo, feitiços de amor, conspirações e previsões do futuro são muito populares. Alguns são céticos e consideram os ciganos bons psicólogos e hipnotizadores e suas previsões meras coincidências, construídas na intuição, seu espírito de observação e truques que pertencem exclusivamente a essa minoria étnica.

Os ciganos fazem leituras de cartas, linhas da mão e bolas de cristal. Feitiços e maldições ciganas eram tão bizarros quanto temidos.

Eles acreditavam fortemente em talismãs, amuletos e os carregavam em seus bolsos. Acreditavam que o talismã assumia as características do portador e o protegia de espíritos malignos, problemas e trazia boa sorte. Os ciganos usam ervas para curar doenças e realizar certos feitiços.

Alguns de seus amuletos e rituais mais conhecidos são a associação de boa sorte com folhas de alecrim, que também protegem contra más energias, e o putsi, uma espécie de patuá que contém ingredientes como pétalas de rosa, uma aliança de casamento (da mãe ou da avó), uma ervilha, dois dentes de alho, uma moeda de ouro ou prata, raiz de lírio e um pedacinho de carvão, também indicado para dar sorte.

Em outros grupos étnicos, pássaros e animais têm poderes proféticos. Andorinhas trazem boa sorte e diz-se que o crânio de um cavalo mantém espíritos malignos longe de casa.

Na comunidade cigana húngara, se um cavalo é roubado, o dono enterra o arreio e faz uma fogueira sobre ele. Ele lança uma maldição sobre o ladrão, que se ele não devolver o cavalo, ele ficará doente com uma doença terrível.

Além da leitura da sorte, os ciganos também tinham ocupações como ferraria, metalurgia em geral e treinamento de animais. A ferraria era suspeita de ter origens satânicas por causa do processo de queima, um processo que seria inspirado nas chamas do inferno.

Na cultura cigana, acreditava-se que as mulheres, por estarem em posição de inferioridade social, entravam mais frequentemente em contato com forças malignas.

No século XV, a primeira bruxa a ser enforcada foi uma mulher cigana. Este é outro fato histórico que mina a imagem da cultura cigana. Nos anos 1600, uma mulher suspeita de ter laços com o mal teve suas mãos e pés amarrados e foi jogada na água. Se ela flutuasse, acreditava-se que era uma bruxa. E então retirada da água e queimada na fogueira.

Na Idade Média, os ciganos eram frequentemente expulsos sob acusações de bruxaria. Isso levou à percepção de que essa raça era incapaz de qualquer integração social. Muitas dessas descobertas contribuíram para estereótipos de que os ciganos tinham ligações com o mundo das forças ocultas. Estereótipos que ainda são mantidos hoje.

Superstições, feitiços, filtros e adivinhação são uma longa tradição que ainda hoje se mantém em certas cidades ciganas de todo o mundo, especialmente na Romênia, onde as bruxas ciganas são altamente respeitadas. Lá, a adivinhação ainda é praticada. Dizem que a leitura da sorte entre os ciganos traz má sorte. Esse povo acredita que o futuro tem que permanecer um enigma, porque eles vivem o momento e são essas lendas em torno da magia cigana que tornam a tradição cigana única.



Um dos seus rituais mais importantes e populares são os associados ao solstício de verão, ponto-chave do calendário de qualquer cultura ancestral, no qual todos os poderes da shuvani são intensificados. Se você quiser se preparar para o próximo solstício como uma verdadeira bruxa, não se esqueça de se banhar no sal e sair para colher flores da estação (a erva de São João é a preferida). Medite sob o luar e queime um desejo no fogo, mas devo alertar: cuidado com o que você deseja, nesses dias os espíritos ouvem.

Com um passado tão interessante, é curioso que a tradição da feitiçaria cigana não tenha sido mais explorada na ficção – Cervantes já mencionou algo em La Gitanilla (“Dizem que são feiticeiras / toda a sua nação”) – no entanto, é difícil para encontrar personagens ou enredos relacionados. A maior parte dos textos que podem ser consultados são grimórios dedicados a rituais e feitiços antigos, e o cinema também não lhes deu muita atenção. 


ORÁCULOS UTILIZADOS PELOS CIGANOS


Quiromancia (leitura das linhas das mãos): Comum às mulheres ciganas, aprendida ainda crianças. Também praticam a cartomancia (inclusive alguns poucos homens ciganos).

 Piromancia: ler a sorte na chama de uma fogueira ou vela.

 Cleromancia: ler a sorte nos dados.

Jogo das sementes: alguns homens ciganos costumam fazer análises através das sementes dos frutos.

Bola de cristal: geralmente usada por mulheres com clarividência. Elas se concentram e conseguem visualizar imagens do presente e do futuro na bola de cristal.

Cafeomancia: análise de borra de café.

Jogo das patacas: jogado por homens ciganos que utilizam as moedas como meio de previsão e orientação.

Cristalomancia: adivinhação com pedras preciosas (cristais).

Ceromancia: análise feita com cera quente, colocada sobre superfície seca ou com água.




Livros sobre bruxaria cigana e cultura cigana

Diário de uma Bruxa, de Sybil Leek.

Magia Cigana: Feitiços, Ervas, Interpretação de Sonhos e Leituras Futuras da Tradição Romani, de Patrinella Cooper.

A Inquisição e os ciganos, de Maria Helena Sánchez Ortega.

Zigeunermärchen, de Philomena Franz.

Tsigan: O Poema Cigano, de Cecilia Woloch.

O País Perdido, de Luminiţa Mihai Cioabă.