domingo, 9 de novembro de 2025

A importância da tatuagem para os ciganos.


(Foto: Tatuagem do clã Kalderash)

O povo Rom, marcante e diferente, desde os primórdios aderiu ao uso da arte de marcar a pele com cores, símbolos, desenhos, utilizando seus próprios simbolismos (sol, lua, estrelas, pirâmides, etc...), de forma que eles passaram a ganhar ainda mais força dentro da egrégora mística da raça de nômades. Sendo um povo que tem suas próprias expressões, ao viajar pelo mundo, ganhando bagagem cultural, sem esquecer suas raízes hindus, desenvolveu formas muito características, para a utilização da arte. 

De uso imemorial, a tatuagem é uma constante etnográfica em todos os povos ciganos, independentemente da tribo que se faça parte. As tatuagens são marcas para as quais se atribuem poderes. Geralmente tais marcas "talismânicas" são tatuadas nas mãos ou pés dos ciganos com
objetivo de identificação do clã, significado do nome e amuleto.
Assim, em qualquer lugar do mundo onde existam ciganos, independentemente do clã a que pertençam, as tatuagens nos corpos os identificam ou os distinguem entre si. 

 O reconhecimento pela arte de marcar a pele ganharia expressão através dos ciganos, por sua sempre primeira opção de vida: O Circo. Na vida circense, artistas, domadores, bailarinas, conheceram e adotaram esta prática tão comuns aos Rom. Tatuavam nomes, amores, certezas, símbolos de boa sorte, e assim, os ciganos divulgavam a arte que “tomaram” emprestado. 

As pessoas que viviam em torno dos Rom (igualmente viajantes), aderiram, principalmente, aos símbolos de boa sorte, nomes de Clãs e expressões do poder divino. Dentre estas pessoas, destacam-se algumas atividades, por serem exercidas também pelos Rom, o que consagrou a arte da tatuagem como forma própria de encarar a vida. São eles os marinheiros, domadores, negociantes de ouro, artistas e místicos em geral.

Os Roms passaram também a tatuar o nome do grupo (Natsia) nação ou povo o qual pertenciam, como forma de identificação e proteção. Apesar de haver nestes tempos, muitos preconceitos, muitos ciganos, por dominar esta arte, eram convidados a estar junto aos nobres da época, trabalhando também para gente do povo, nas praças e ruas das grandes cidades. A ornamentação da pele, ganharia, assim, cada vez mais adeptos entre os ciganos e os simpatizantes da cultura, os “ciganos de alma”. Usando seus próprios simbolismos, o povo roma acredita que uma vez escrito (marcado) na pele, o signo deixa o corpo imantado, então passaram tatuar quem assim desejasse, era só escolher o símbolo correspondente para a imantação desejada.

Para os ciganos Kalderash, as tatuagens devem existir, para o homem, nas mãos, representando o trabalho, e para a mulher, nos pés, simbolizando o esteio, o alicerce da família. Na cultura cigana, a
mulher necessita do trabalho do homem, que por sua vez precisa de alicerce feminino. 
Também são aceitas na nuca ou ao longo da coluna vertebral, como significado de nome, defesa, contra-feitiço. Um Manouche, por exemplo, tatua no braço. As demais Natsias e Vítsas (descendências), utilizam tatuagens em outros lugares, nos pulsos, nos braços, no peito, cada qual com o seu sentido e significado. 

As tatuagens assumem diferentes significações de acordo com a natsia e vitsa a que o cigano pertence. Alguns usam a tatuagem como garantia de saúde e proteção, outros para afastar os maus espíritos, outros, como nós, anunciam pela tatuagem a nossa tribo e o nosso nome cigano. Outros usam a
tatuagem em memória de algum parente falecido que representa uma transição no ciclo de vida. 



Os primeiros simbolismos utilizados para tatuar os não ciganos, foram os símbolos do horóscopo cigano. Depois as moedas, ícones entre os talismãs, que acreditam que ganham mais força próspera se imantada (tatuada) na pele, pela força de ser símbolo do poder material, e da capacidade de realização de riqueza em qualquer sentido, espiritual ou material.

 Assim foi crescendo o uso desenhado de outros talismãs:

 Cruz Ansata, Peixe - Só pode ser usado por homens, para que nunca falte dinheiro e coragem;
 Coruja – animal sempre alerta e que nos faz assim também, além de nos favorecer com a capacidade de perceber tudo a nossa volta;
 Punhal- Corta totalmente as forças negativas;
 Ferradura - Atrai sorte, positividade e energias como o poder de superação;
Estrela de cinco pontas - Representa os cinco sentidos do homem, favorece os feiticeiros, magos e estudiosos de magia;
 Gato - Símbolo da prudência e paciência; 
Sino - É capaz de “tocar dentro de nós” para avisar o que vai acontecer, assim podemos nos preparar melhor;
 Coração - Trás amor infinito e puro;
 Chave - Para abrir as portas dos nossos sonhos e planos, resolução de problemas.

 Os símbolos das cartas, tanto ciganas quanto do baralho comum, de pôquer, são também usadas.
 Hoje as mulheres podem se tatuar (antigamente somente os homens podiam) e também lembrando as raízes ciganas hindus, tatuam com henna, para festa, os pés, braços, seios e costas. 
Muitos Rom mantém a preferência pelos nomes de seus Clãs (Kalderash, Louvara, Kalon, etc) ou de Protetores Espirituais (Madalena, Carmem, Esmeralda, Sulamita, Natasha, Yasmim, Manolo, Wladimir, Wlado, Juan, Artêmio, Ramiro, Celina, Pablo, Salomé, Tizíbor, Paloma, Zaíra, Carmencita, Iago, Ramur, Íris, Ísis, Hiago, Katiana Natasha, Pedrovik, Sâmara, Ilarim, Katrina, Melani, Leoni, Wlavira, Bóris, Mirro, Nazira, Tamíris, Guadalupe e muitos outros), assim como a Bandeira Cigana.