terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Amuletos e Talismãs

Os amuletos são objetos com poder de curar ou de afastar o mal, diferentes dos talismãs, que desempenham um papel mais ativo do ponto de vista da magia, como é óbvio, pois têm o poder de proporcionar fortuna e sorte a quem os usa. Os amuletos mais antigos eram formados de partes do corpo e de secreções de um animal. Existem ainda vestígios deste costume no poder protetor atribuído às penas de determinadas aves, aos dentes ou pele de certos animais, etc.

Os símbolos mágicos desenhados sobre a pele tinham grande importância e deram origem à prática da tatuagem, que se universalizou com o mesmo significado. No princípio, substâncias orgânicas eram introduzidas sob a pele, a fim de que o desenho tivesse relevo. Figuras e amuletos da Pré-História, encontrados em Chipre, revelam marcas de tatuagens, e no culto de Cibele, os desenhos eram feitos com agulhas em brasa.

Nas idades primitivas, as figuras tatuadas eram predominantemente lineares e geométricas. Mais tarde surgiram as tatuagens representando animais estranhos e fantásticos, figuras simbólicas como pássaros de grandes asas, serpentes e outras.

Todos os adornos, como brincos, anéis, pulseiras e cordões, derivam dos amuletos e talismãs. O caráter mágico que lhes era atribuído explica o motivo pelo qual, inicialmente, as maravilhosas joias dos faraós e guerreiros eram enterradas no túmulo com eles e não deixadas de herança para a família.

Explica igualmente a quantidade de adornos que os povos primitivos usavam em todas as partes do corpo: no nariz, nos lábios, orelhas, pescoço, braços e pés. Este hábito nada tem a ver com vaidade ou luxo; o objetivo era apenas proteger quem os usava contra os perigos que o ameaçava.

Supõe-se que o poder mágico dos amuletos nasce de seu contato com a pele, e isso explica por que motivo as figuras tatuadas têm um poder maior e mais imediato; têm a mesma origem as "pinturas de guerra" dos índios e de certas tribos africanas.

Um critério fundamental para a escolha dos amuletos é a semelhança entre ele, a substância de que é feito e o fim a que se destina. As plantas e minerais vermelhos curam as doenças do sangue ou protegem contra elas; a pele de antílope dá agilidade; a do leão e do elefante transmite força. Isto explica a importância dos anéis e ornamentos em marfim, das garras do leopardo e de outras partes do corpo de animais selvagens.

Julgava-se que o poder mágico inerente a um objeto podia ser transmitido para outro. Isto levou à fabricação de amuletos e talismãs artificiais, para os quais o feiticeiro transferia virtudes do objeto original ou o poder que ele próprio possuía, através de uma série de ritos.

Alguns amuletos deviam ser usados de certa maneira e ser visíveis; outros deviam ficar dissimulados ou escondidos, pois perderiam sua eficácia se alguém pudesse vê-los ou sequer suspeitar de sua existência.

A vara mágica é, por excelência, um amuleto cuja função original lhe confere o poder que lhe é atribuído. Era usada para expulsar os inimigos, traçar o círculo mágico, indicar o ponto onde os poderes mágicos deviam reunir-se para juntar ou separar. As mais conhecidas são a de Esculápio, na qual está enrolada a serpente, e a vara divinatória dos rabdomantes.

É preciso, contudo, distinguir os fetiches dos amuletos e talismãs. O fetiche está ligado à ideia de divindade de certos objetos. Ele tem um poder que lhe é conferido pelo feiticeiro e numerosas práticas são necessárias para impedir que o perca, pois do contrário ele de nada servirá. Por vezes, os fetiches são figuras de seres humanos ou de animais de forma estranha, ou com certos órgãos excessivamente desenvolvidos. Podem também ser dentes, chifres ou penas, partes de plantas ou objetos variados. Também existem os fetiches coletivos, que protegem o grupo contra todos os males e perigos.

O poder atribuído aos fatores mágicos, ou por ser inerente ao objeto ou por ser transferido de outro objeto, pessoa ou animal, só em casos raros tem relação com o poder real, terapêutico e protetor de certas plantas medicinais.

Julgava-se que o poder tóxico comprovado de um certo veneno podia ser exercido por cada substância impregnada desse poder em decorrência de certas práticas e, por analogia, que as virtudes terapêuticas de uma planta medicinal poderiam passar para uma substância posta em contato com ela. Portanto, o valor dos meios mágicos provém, quase que exclusivamente, da sugestão. Se tornam ativos quando deles emana uma sugestão de poder.

Agindo sobre o inconsciente ao longo de milhares de anos, tem grande influência mesmo sobre pessoas dotadas de capacidade crítica e a despeito de toda a estrutura da civilização, muitas vezes por necessidade, outras por prudência.

Na natureza se originaram diversos símbolos. É muito provável, por exemplo, que o círculo, símbolo da eternidade e do infinito, provenha da forma dos grandes astros, como o sol e a lua. Exprime a concepção da lei cíclica da vida, da morte ao renascimento, cujo emblema era a serpente. O desenho de um círculo que impede a ação de poderes hostis provém do costume de erguer paliçadas. Alguns camponeses traçavam um círculo no chão, ao redor das patas dos animais, para impedir a aproximação de fluidos negativos. O hexágono, símbolo da perfeição, está nas flores e flocos de neve. A forma pentagonal é a da natureza viva e tornou-se símbolo da humanidade. O poder real e material da corrente que liga um indivíduo a um lugar ou a um determinado objetivo era expresso por anéis, cintos e colares com emblemas.

As representações de estrelas, plantas e animais mágicos eram utilizadas para simbolizar forças, desejos, simpatias e ódios. Assim como os traços e o nome simbolizam e representam um homem ou um animal, também a descrição das estrelas representa o poder que lhes é atribuído e possui. Freud afirma que o valor de um símbolo provém do fato de ele ser a substância que persiste no inconsciente. Na verdade, todos eles sugerem, evocam, ou defendem algum instinto, voto ou desejo.